O Encontro Sonhado
Alice de Toledo
Estávamos em Agosto. Chovia torrencialmente. Numa residência, nas imediações do Hospital Santa Isabel, da cidade de João Pessoa, Estado da Paraíba, duas adolescentes aguardavam que a chuva cessasse para irem á Escola. Era noite. Impossibilitadas, recolheram-se ao quarto e dirigindo-se a sua tia Lúcia, pediram que lhes contasse alguma história, do passado, das que ela sempre contava. E Lúcia, sem hesitar, começou:
- Há, muitos e muitos anos, residia, nesta casa uma família pacata, honesta, que educava seus filhos sob os princípios morais da Cristandade. Havia uma Jovem, de aproximadamente, 14 anos, chamada Anita, muito estudiosa. Nas escolas alcançava sempre os primeiros lugares. Vivia ela só para os estudos e, nas horas vagas, brincava com seus irmãos menores. Certo dia, chegou um primo seu, chamado Gildo, de mais ou menos 12 anos que, do interior do Estado ia estudar no Liceu Paraibano. Ficaria em sua casa, que também era a casa da tia de seu pai. Anita, mais adiantada, ensinava seus deveres, e em poucos dias, começou a querê-lo de maneira estranha para ela. Sentia ciúmes de Gildo, quando ele se ausentava; preocupava-se quando o via triste, queria estar sempre perto dele. Não sabia que em seu coração brotava o Amor que o acompanharia por toda a existência. Um dia, ela o surpreendeu escrevendo. Aproximou-se dele e perguntou: -Está escrevendo para quem? -Estou respondendo uma carta de minha professora. Anita ficou triste e ele, conhecendo sua tristeza disse: -Se você quiser, eu não mando a carta. Anita não ia opor-se a um desejo de Gildo; por que, apesar de ficar enciumada, achava que ele jamais poderá unir-se a uma mestra que o ensinara as primeiras letras desde os oito anos de idade. Passaram-se três anos. Eles, adolescentes e tímidos, sozinhos compreendiam o Amor que invadia seus corações. A vida difícil. Em casa de Anita tudo rareava. Gildo resolveu, nas horas vagas, trabalho numa oficina de seu pai, próxima da Estação Ferroviária. O que recebia, trazia para Anita que comprava o que eles precisavam, naquele dia.
Certa vez o pai de Gildo chegou da cidade do Interior, onde vivia e dirigindo-se a Anita, perguntou:
-Onde está Gildo?
-Na oficina, respondeu ela.
-Não está estudando? Vou levá – lo de volta.
Seu coração ficou transido de dor, pois a separação estava próxima.
Antes de ele partir disse a prima Anita: - “Só voltarei aqui quando for gente”.Em seu linguajar queria dizer: Quando eu tiver condições de vir buscá-la.
Anita chorou muito, muito. Um dia veio uma das irmãs de Gildo e lhe disse que ele estava gostando de sua professora, com projetos de casamento. Anita não queria acreditar no que ouvia, achava impossível uma professora que ensinara um aluno de oito anos, casasse com ele. Mesmo assim confiava em suas últimas palavras ditas ao se despedir.
Ano depois ele volta. Ela o recebeu alegre e feliz. Não tardou em saber que a amizade com a Mestra continuava. Ele partiu para o Rio. Era um fuzileiro naval. De lá escreveu-lhe, mandou-lhe retrato, prometeu-lhe regressar breve para realizar seus sonhos. Alegre e esperançosa, bateu-lhe á porta a desilusão. Novamente, chegou a irmã de Gildo, que sempre vinha do Interior, tratar de negócios ou passear e era a casa de Anita, sua prima, que ela se hospedava. Desta vez ela assegurou-lhe seu próximo casamento com a mestra. E a carta que ele escrevera dizendo: Dentro em breve deixarei esta vida para assim realizar meus sonhos. O sonho que ia se concretizar não era com a pobre Anita? Com a alma ferida e em desespero, ela devolveu-lhe todas as cartas e retrato enviados. Suas aspirações ruíram por terra. Em seu coração adormecera aquele sonho de amor. Mas ela pensava: Um dia hei de vê-lo para dizer-lhe que não lhe perdoarei, ele fora cruel comigo. Após a morte dos pais de Anita, ela se dedicou ao Magistério e lutava pelo vida. Trabalhava o dia inteiro. Mesmo assim, apareceram dois homens que a quiseram. Ela abstraída, deixava dúvidas sobre o passado e,eles sem poder desvendar o mistério de sua alma, afastaram-se.
Decorridos mais de 30 anos, Gildo voltou para João Pessoa. Anita encontrou-se casualmente com ele. O amor que brotara em seu coração era superior ás convenções sociais, arrojado como os ventos fortes que só o tempo os resiste. Por isso, Anita não teve forças para afastar Gildo do seu caminho. Acolheu em seus braços o homem que viveu em seu coração, que povoou seus pensamentos.
-E ele, titia, como se portou?
-Prometeu nunca mais abandoná-la. E começou a narrar:
-“Sempre que vinha a João Pessoa, passava em frente de sua Repartição e nunca a vi. Uma das minhas irmãs continuava afirmado: ela está noiva de um homem rico Eu não. tinha coragem de encontrá-la com outro homem. Tarde compreendi que tudo não passou de uma armadilha para efetivar nossa separação”.
Conseguiram seus objetivos ajudados pela hipocrisia. Gildo se casou com a professora; não houve filhos do casal. Anita jamais imaginava que isto poderia suceder,pois ela considerava uma professora, principalmente duma classe infantil, como uma segunda mãe.
Em 1974 ele veio morar aqui em João Pessoa, já reformado pela Marinha Naval. Encontraram-se casualmente, como foi narrado. Juntos passaram dois anos. Em 13 de maio de 1976, durante a manhã, Gildo esteve, como sempre, na residência de Anita. Ás 11 horas e 30 minutos foi para sua casa prometendo voltar ás 16 horas para irem ao aniversário de sua sobrinha. Anita o esperou até 19 horas e nada de Gildo.
No dia seguinte chegou uma de suas irmãs dizendo que Gildo havia falecido: motivo, uma varize do esôfago que havia rebentado pela 2ª vez, logo após o almoço em sua residência, pois ele fora ao banheiro, logo que almoçou e começou a vomitar sangue.
Anita ficou aniquilada, sem saber o que havia motivado o rompimento da varize que chegou acompanhada da morte para ceifar a vida de Gildo.
Mas a proteção do Divino Criador do Universo sempre, sempre, está ao lado dos que praticam o Bem e não usam deslealdade para obter proveito, deu forças a Anita para suportar o terrível golpe do Destino.
As pessoa, que conheciam os personagem deste fato verídico, contavam esta história como: O sonho de amor, que lançou seu desafio ao tempo.
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