CERRADO
Cerrado- pedaço de terra
Que guarda nos sonhos
A mancha pura e sagrada
Do rastro imenso de Deus /
Entre grotas e planuras
Por esses casebres tristes
Que lembram choro,
Homens que vivem na luta
Retalhando a terra bruta
Onde a tristeza se deita.
Cerrado- dos carros de bois
Agitando o pó cinzento
Das vestes das madrugadas,
Entoam canção fagueira
Com seus discos de madeira
No som das estradas .
Cerrado- do vaqueiro altivo
Que no seu cavalo arisco
Mergulha no matagal
Ligeiro como um corisco .
E a tarde quando o sol desce,
Ele tranquilo aparece .
Cerrado- da chuva que cai
Cerrado- do sol causticante
Cerrado- de um povo que sofre,
Que faz da existência um cofre
Faquir por necessidade .
Cerrado- da seca inaudita
Que fere, mata e consome
Cerrado- onde Deus existe
Cerrado, sertão da mão que se abre
Magra e esguia como um sabre
Pedindo esmola de paz .
Cerrado, sertão de minha crença
Continue sempre assim
Magro, faminto , de pé
Ergue essa mão para o céu
Que, dos mistérios do além
Um dia essa esmola vem
Das mãos imensas de Deus !
Umbelina Frota, escritora, poetisa, presidente da ( ALCAI ) Academia de Letras , Ciêcias e Artes de Inhumas-Go.
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