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Cronicas-->O Pequeno Jornaleiro -- 21/03/2005 - 09:04 (Odorico Affonso Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O PEQUENO JORNALEIRO
Tino

O Jornal falado da TV Globo havia terminado e tinha início o último capítulo da telenovela Senhora do Destino. Suspense total! A Nazareth jogaria a criança nas águas da cachoeira?
- E Paulo Afonso surgia na telinha linda e deslumbrante.!..
O que irá lhe acontecer com a transposição das águas do Velho Chico? Dar tempo ao tempo para vermos como é que ficará o resultado do atual debate dos donos do nordeste sofrido......
Mas vamos a nossa telenovela...Tudo bem com a nota cem...
A novela terminou como todos desejavam; batemos palmas e ficamos também na vontade de participar do plano de aumento populacional criado pelo autor .Uma coisa porem me deixou encucado ao término da Senhora do Destino. O caso do Jornal "O Diário de Notícias" . A estória contada na telinha foi real ou fictícia? Acredito tenha sido bolada pelo espírito criativo do escritor Aguinaldo Silva.. Mas ainda assim com uma pontinha de curiosidade: - Quem é o atual proprietário do Jornal? Pertenceria ele também ao maior conglomerado do jornalismo brasileiro? Se positivar, aguardaremos para muito breve o retorno do Velho Jornal ás bancas.. Com o sucesso da novela, o caminho está aberto... Aguardemos..
Em pensamento nostálgico me vi na adolescência, levando notas para a publicação dos acontecimentos do time de futebol da várzea para o velho Diário da Rua da Constituição. Relembrei com saudade aqueles tempos...E como o assunto é jornal, pergunto: - Sabem vocês como acontece a sua distribuição na cidade do Rio de Janeiro? Carros da editora dos jornais saem pela madrugada adentro fazendo a entrega dos jornais nas bancas.. E será que sempre foi assim? - Não! No Rio dos nossos avós, quem vendia os jornais isto é. quem fazia a distribuição eram meninos descalços, meninos de rua, sem teto para morar e que dormiam na soleira das portas das lojas tendo como cama, a própria folha do jornal... Na rua ou nos bondes (*) apinhados lá iam eles passando por cima de tudo e de todos apregoando o seu produto...Extra! Extra! Afundaram o Navio Bahia!
O meu louvor a primeira dama do País D. Darcy Vargas que teve a iniciativa de fundar a Casa do Pequeno Jornaleiro Hoje já não mais existe a sua figura. Ela se brutalizou e se transformou com o crescimento da Grande Metrópole, mas a Casa que os abrigava ainda existe...
No cruzamento das ruas Ouvidor, Rio Branco e Miguel Couto a estátua do Pequeno Jornaleiro tão utilizada pelo cantor Serguey que nela se dependurava para divulgar o Rock da época, Fugindo do artista a estátua hoje foi transmutada para uma nova esquina da Av Rio Branco.
Nas minhas andanças pela literatura brasileira, li e transcrevo o artigo "O Pequeno Jornaleiro". de Millor Fernandes que retrata como ninguém, passagens pitorescas sobre o Rio antigo. Leiam! Vale a pena...

(*) Transportes de massas extinto e que circularam pela cidade

Millór escreveu:
"Leio no Boechat que desapareceu a estátua do Pequeno Jornaleiro. Ficava ali, num triàngulo junto da Miguel Couto e Ouvidor, a boca aberta gritando sua eterna manchete. Ali, à sombra do glorioso Bar Simpatia, de tantos anos e Rios, de tantas happy hours, quando ninguém sabia que papo furado na hora da maré mansa e do chope gelado (no caso refrescos maravilhosos) ia se chamar assim. De vez em quando Machado de Assis ainda passava de cartola tentando conquistar os boêmios da tarde com seu slogan para a fundação da Academia Brasileira de Letras: "Black is Talentfull".
Pra quem não sabe, o Pequeno Jornaleiro era o vendedor de jornais que andava no meio do tráfego (uma dúzia de bondes, três carroças e 28 automóveis), anunciando a última edição dos jornais. O Diário da Noite, do Cható, um jornal impresso em papel verde, onde iniciei minha gloriosa (desde então declinante) carreira jornalística, às vezes tinha 7 edições, cada uma delas publicando apenas o último roubo - em geral de galinhas - o último crime passional, do mata-mosquitos esfaqueando a amásia (havia mata-mosquitos, facas e "amásias") ou simplesmente a chegada ao Rio de um político vindo de São Paulo, depois de três dias de viagem. Como vêem, já tínhamos a notícia em tempo real. Quando mais muda mais fica a mesma coisa.

Sempre me deu grande satisfação a pequena escultura agora desaparecida - pouco mais de um metro de altura, feita por Fritz, (Anício Mota), um excelente caricaturista definitivamente esquecido. Também, quem mandou cortejar o olvido eterno, desenhando com cabeça de fósforo? É, onde estivesse, Fritz riscava um fósforo e, com a fuligem da cabeça do fósforo, realizava seu "trabalho". Meia dúzia de fósforos e tínhamos uma pequena obra-prima. E isso é tudo que sei dele, Fritz. E talvez a última coisa que você saberá dele, Fritz".
Adendo:
Naquela época eu fazia uma especialização no centro do Rio, aos sábados. Sabia que a estátua havia sido transferida para a Sete de Setembro, entre a Rio Branco e a Gonçalves Dias, mas não via a hora de chegar a próxima aula para verificar o fato. Lembro-me ainda que, para aumentar a minha ansiedade, não haveria aula na semana seguinte. Finalmente chegou o dia e eu pude, aliviada, constatar que aquele pequeno menino estava lá, tão belo quanto o seu bronze. Por alguns minutos parei e o contemplei. Pude sentir o que Millór descreveu, pude ouvir os gritos daquele moleque corisco e serelepe. Fui invadida por uma energia mágica, por uma saudade de um passado que nunca vivi, mas que muito me foi contado. Pensei na tia pintora, que eu não conheci, amiga de Fritz. Mulher que quebrou muitos tabus e preconceitos, quando saiu do interior de Minas Gerais, em 1930, para estudar Belas Artes, no Rio de Janeiro. Por alguns instantes pude viver o glamour do Rio antigo, que conheci em álbuns empoeirados pelo tempo, repletos de recortes de jornais, revistas e fotografias. Estava ali imóvel e atónita, quando fui interrompida por um pequeno pedinte. Talvez tivesse a idade do Pequeno Jornaleiro, porém sem o mesmo brilho e vivacidade. Os olhos eram tristes e a voz quase não se ouvia. Dei-lhe um dinheiro, entrei num bar e pedi um fósforo. Peguei um caderno, com a fuligem do fósforo desenhei um coração e escrevi: PASSADO.

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