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Contos-->Pensão de beira de estrada -- 11/12/2007 - 22:08 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em 1959 estava difícil manter o ramo hoteleiro em Fronteiras. O movimento estava fraco, não havia praticamente nenhum hóspede. Papai ficou sabendo de um ponto na BR 116, muito bom para colocar uma pensão. Precisamente no Km 63, seu Osmar tinha uma bomba de gasolina com uma casa de taipa desocupada. Mudamos pra lá. A casa era de chão batido e as paredes rotas. Toda noite as vacas enfiavam a cabeça pelos buracos para lamber o sal do xixi que as pessoas faziam durante o dia e quem dormisse perto das paredes também levava umas lambidas. O quilômetro sessenta e três era realmente um entroncamento de estrada muito movimentado por caminhões e ônibus. A Princesa do Agreste passava ali, exatamente na hora do almoço. Ficava olhando aquele ônibus com um chapéu de couro desenhado na pintura e uma multidão de passageiros vindos de Recife para Teresina ou São Luís do Maranhão. Muitos almoçavam na pensão de seu Zezinho.
A notícia se espalhou. Havia no quilômetro sessenta e três uma pensão que servia uma comida deliciosa. Um ou outro caminhoneiro que chegava para abastecer e também experimentava a comida de D. Iaiá, fazia a propaganda. Aí a notícia se espalhou como cinza de braseiro tocada pelo vento. Muitos caminhoneiros paravam no posto de gasolina, por causa da pensão. Até então, o movimento do posto de seu Osmar era pequeno. Pimenta, cunhado do dono, administrava os negócios. Muito trabalhador, mas não tinha carisma para vendas, era nota zero na área de atendimento. Seu Zezinho, no entanto, atendia a todos com espontaneidade e alegria, distribuía café aos caminhoneiros, mesmo que não comessem na pensão. Saia de carro em carro, com um bule de café na mão. “Esse foi feito na cara do freguês”, dizia ele. O marketing do velhinho funcionou. Não se via antes tantos caminhoneiros juntos. Como um milagre, os negócios floresceram da noite para o dia. Seu Osmar tornou-se um homem rico. Sua usura cresceu com os negócios e o caráter diminuiu na mesma proporção. Sem saber o que fazer com tanto dinheiro, construiu um prédio praticamente no mato, bem ao lado da velha casa de taipa. Mas papai sabia o que fazer com aquilo e lhe pediu a preferência para alugar.
- O ponto é seu, Zezinho! É só ficar pronto vamos a Picos fazer o contrato.
Ora, seu Zezinho é que ajudou o posto a crescer sem nada pedir em troca. Apenas isso: a preferência para alugar...
O prédio ficou pronto. Marcaram o dia de assinar o contrato de aluguel, mas, no dia marcado, seu Osmar não apareceu. Uma semana depois ele apareceu e chamou papai em particular.
- Seu Zezinho, infelizmente, não posso alugar o prédio pra você, vou passar para Pimenta, mas como prêmio, vou lhe dar três meses de aluguel de graça, até você se mudar.
Meu pai deve ter ficado pasmo diante da situação. Para onde ir agora? Os três meses de “prêmio” eram na verdade, três meses de prazo pra ele se retirar. Essa era a recompensa que recebia por ter ajudado um simples dono de uma bomba de gasolina, tornar-se empresário. Não disse nada. Apenas comunicou à mamãe que teriam de mudar dali. O prédio novo não seria alugado pra eles.
Mamãe tinha uma personalidade mais forte e extremamente franca, talvez por isso, às vezes mal compreendida. Naquele momento não se calou. Procurou seu Osmar. “Escuta aqui velho safado sem palavra..” Ele quis alterar a voz, mas ela mandou que se calasse e ouvisse o que tinha a dizer. Então ele abaixou a cabeça e ouviu tudo. Foram palavras amargas, mas muito verdadeiras que com certeza jamais se esquecerá delas.


LIMA,Adalberto, RODRIGUES, Francisco José et al. O Brasil nosso de cada dia.
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