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cronicas-->O PROBLEMA NOSSO DE CADA DIA -- 15/03/2005 - 09:21 (Roberto Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O PROBLEMA NOSSO DE CADA DIA


O cardiologista e escritor Lair Ribeiro se tornou o papa da literatura de auto-ajuda. Um fenómeno editorial com mais 3 milhões de livros vendidos no Brasil e no exterior. Seus manuais do viver-bem nesse "Admirável Mundo Novo", viraram bíblia de uma geração de ansiosos, psiconeuróticos no divã do salve-se-quem-puder. Seguindo a mesma linha da auto-estima, o guru Paulo Coelho, projeta em seus livros a imagem medieval, reinventando a mágica da imbecilidade moderna. Vende uma utopia ultrapassada e recorrente. Com isso chegou à Academia Brasileira de Letras (ABL).
Preenche a necessidade de purgar os traumas sociais, as frustrações, culpas e recalques - fraqueza doentia em que prosperam os cultores da falsa moral. A sociedade precisa de muletas conceituais pedagógicas para superar seus desvios mentais e fracassos emocionais. E no limite da razão, agarra-se às profecias de curas miraculosas, aos falsos profetas dos bons costumes - mercadores de receitas de sucesso. No receituário de "Como manter os pés no chão e a cabeça nas estrelas?", a fé é vendida como promessa de salvação, prosperidade e uma vida melhor na eternidade espiritual sem taxas, impostos ou obrigações.
Por esse princípio doutrinário, o medo passa ser ferramenta importante na manipulação da consciência coletiva. O suposto pecado - invenção da cultura pagã - amedronta o incauto faltoso das promessas divinas. Não bastasse esse confronto: bem/mal, céu/inferno - de fácil lavagem cerebral de massas - as pessoas, sob a neurose do medo, adotam "problemas" como padrão de qualidade de vida. Quem nunca teve, ou não tem problemas? Óbvia, a pergunta. Problema nos negócios, no emprego, financeiro, conjugal, familiar, espiritual, existencial. E em pensar em problemas - olha aí, a mente conturbada. É "problema". Um problemaço, insanável. Imaginar que deveria, poderia; não deveria, nem poderia. Pior, que poderá, deverá... Quem sabe, talvez, nunca. É o fim.
Mas nem só de entrave vive o problemático que tem, no próprio problema, formas de administrar quantos forem os problemas. Em excesso de euforia - estou mais do que certo, errados são os outros. Aqueles dividendos mal aplicados... E o dinheiro recebido em indenizações das terras desapropriadas para os sem-terra? Frequentar aquele clube, cheio de favelados? A cidade está dominada por favelas, violência e sequestro relàmpago. Não há shopping que ofereça tratamento privativo ou especial a nós - os mais iguais. O caixa dois corre sério risco de fiscalização. Isso é problema ou solução?
Alguns criam "problemas" onde não há problema. Não sabem viver sem eles e procuram tirar proveito ao máximo da situação, pondo uma dose de realidade à imaginação. Uma vez criado o "problema", o desfecho, às vezes imprevisível, dá mais expectativa e emoção. A vivência em grupo e a conjugal são as que mais causam problemas. Substantivamente, por mais aparentes que sejam os relacionamentos, nem sempre são um mar-de-rosas, delícia desejada. Tirando os problemas de saúde que, em maior parte são de origens psicológicas, como Freud explicava em suas delirantes consultas, as pessoas querem mesmo é ter um probleminha para ocupar o subconsciente.
O problema é não deixar o probleminha virar problemão. Quem não está nem aí com nada, ignora ser problemático. Em regra geral, ninguém pode viver sem traumas, fantasmas - "problemas" que o identifiquem socialmente. Do contrário, seria você diferente, um anómalo isolado na sociedade moderna. Quando alguém não apresenta sintoma de problema é motivo para se pensar em um.... que por sua vez gera mil e um... e quantos sejam necessários à nossa incrível capacidade de imaginá-los. Mas nem só de problema vivem os "problemas" - o que para alguns seria embaraço: o dinheiro depositado em contas correntes na Suíça, para o ex-governador Paulo Maluf é solução. A corrupção sabe que a justiça é suja, nunca cria problemas para quem a ignora. Os falso-moralistas sofrem mais da doença "problemas". Com certeza, não é o seu caso, leitor. Problemas? Quem não os tem, atire a primeira pedra.
O mundo fica mais leve, cada um pode atacar o "P" de frente, de costas, de lado - como quiser, sem os Lair e Paulo Coelho da vida. Ah! Mas não esqueça: onde for leve seus problemas, os da rua, do governo - cotação do dólar e, descarregue-os em quem aparecer na frente. Antes, verifique se você é ou não "Problemas". Caso positivo, dispense o psicólogo, corte o dízimo do Edir Macedo, a sessão de descarrego. Deixe a vida monótona do escritório, de reuniões para marcar reunião. Esqueça o condomínio, IPTU, Plano de Saúde que nunca cobre os "P", sua psicose. Jogue fora seus conceitos individualistas, auto-afirmação sem sentido. Bote uma malha caliente, mochila esporte e tome o primeiro vóo com destino ignorado. (rcarvalho30@hotmail.com)


Roberto Carvalho, jornalista
- É da Associação Nacional de Escritores (ANE)
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