ODE Á INTUIÇÃO
- poema em prosa –
"Aquilo que precisa ser demonstrado não vale grande coisa" (Nietzsche)
Se houver Deus
o que mais dele se aproxima
é o artista, o poeta.
Não é o cientista nem o filósofo,
justo porque, ao contrário
do filósofo ou do cientista
cultiva a intuição
e é por ela regido.
Intui o que é bom, belo e admirável
e por tais valores é conduzido.
Não precisa demonstrar
nenhum deles, nem por que
é por eles para o alto levado.
A intuição o arrebata
além do bem e do mal,
do certo e do errado,
do falso e do verdadeiro.
Se não houver Deus,
o Ser Humano - candidato a substituí-lo -
é o artista, o poeta.
Não é o filosofo nem o cientista.
Estes precisam provar;
o artista ou o poeta não.
O cientista, o filósofo não conseguem
vencer o medo,
pois tudo fazem com medo de errar.
O artista, o poeta não.
Não têm medo nem preocupação.
Apenas almejam embriagar-se com a ilusão
que a intuição lhes apresenta
para os ascender acima do duro real.
Entre o cientista ou o filósofo de um lado
e o artista ou o poeta, de outro,
o mais livre de todos
é aquele que não tem compromisso
com a verdade demonstrável.
Justo porque seu compromisso
é com a própria liberdade
de criar por criar e nada mais.
Mil vezes o "beau sauvage"
o anti-aristotélico, o anti-tomista
aquele que professa nova forma
de humanismo pós-moderno,
onde o eu que sente
vale mais do que o eu que demonstra.
Dotado de uma razão irracional,
porque não aceita o "se...então",
nem o "ergo", nem o C.Q.D.
das conclusões,
se deleita com a obra desconstruída
e inaugura a partir do nada
o novo mundo para nele, só nele
morar.
Sem medo dos inquisidores
dos dogmáticos
dos donos da Verdade
que demonstram - por a mais b -
o que é a VIDA,
mas não sabem o que é
VIVER. |