Certo dia eu levava um casal de turistas de Fortaleza pela praia até Canoa Quebrada.
No caminho, após já termos percorrido mais de 80 kms de praias , dunas e avistado vários locais que são verdadeiros cartões postais, parei a Land Rover em uma barraca a beira mar.
O casal era só felicidade. Quando sentamos na mesa da barraca um senhor se aproximou para nos servir, pedimos o que aqui no Ceará se chama " trio" ( um prato com peixe, camarão e lagosta).
Como estava dirigindo pedi um suco e o casal uma cerveja.
Enquanto esperávamos pela comida, e sendo um dia de semana, tanto a barraca como a praia, apesar de situada em um local paradisíaco, estavam desertas.
O Sr. que servia na barraca, mas também é pescador, sentou-se num banco que ficava próximo a nossa mesa.
O turista vamos chamá-lo assim , pois não pedi licença para identificá-lo,
perguntou ao pescador, como era a vida ali ?
A resposta veio com uma pergunta - como é a vida de onde o Sr. vem? O turista disse ao Sr. - não é essa moleza, lá se corre o dia todo, ando de terno e não tenho tempo pra nada.
O pescador então contou- nos a seguinte estória:
sabe doutor eu também já morei quando jovem em um lugar esquisito : todo mundo andava bem que depressa, todo dia eu via eles fazendo uma casa por cima da outra e chamavam aquilo de edifício, eu nunca achei fácil mesmo fazer casa em cima de casa, por isso não estranhei o nome que deram praquilo lá.
Aqui, como o doutor pode ver, nossas casas tem só a altura pra gente ficar dentro, e como a gente não precisa daquela coisera toda pra viver, nossa calçada é a praia e nossa avenida é o mar, nosso carro a jangada e o motor da jangada é a vela, o combustível - é o vento. .
Viste então doutor porque voltei tão logo? - vi que ali não era pro meu bico, agora doutor se mal lhe pergunto se o Sr. vê isto também, porque não muda praqui ? Diante da pergunta do pescador o turista sorriu e disse: vou pensar no assunto, e o pescador que era simples, mais bom observador disse de pronto ao turista.
- não pense não doutor, coisa pensada não presta, o pensamento não deixa o coração agir.
A conversa parou ali, pois a comida estava pronta e o Sr. foi apanhá-la, serviu- nos e foi até sua jangada, que estava na praia a poucos metros da barraca.
A comida estava, como sempre, fantástica.
O casal se deliciou, e se eu não tivesse alertado que ainda havia muito o que conhecer, acho que, ficariam pra ouvir mais o pescador. Ao despedirmos para seguir nosso passeio o turista brincou com o pescador
- vou pensar em mudar pra cá e novamente ouviu o conselho:
pense não, faça o que o coração mandar doutor.
J. Ruy
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