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Cronicas-->O ANDARILHO -- 13/03/2005 - 23:38 (J. Ruy) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando os primeiros raios de sol ameaçavam romper pela madrugada, um andarilho iniciava sua jornada.Caminhava a passos firmes até por volta das 10 hs da manhã.
Sentava em uma sombra, comia Xibel:

- mistura de farinha de mandioca, rapadura (extraída da cana de açúcar) e pó de café.Bastavam três colheres e 1 litro de água para se sentir alimentado durante todo o dia.
Reiniciava sua trajetória por volta das três horas da tarde e seguia até o anoitecer.
Durante anos, este homem seguia esta rotina sem se dar conta de onde pretendia chegar. Pouco falou com aqueles que o abordaram nesta jornada, apenas agradecia por um prato de comida, roupas usadas e outros pertences que lhe ofereciam.
Um dia, pela primeira vez em mais de 20 anos se deparou com um lugar que parecia familiar.Sentou-se a beira de um rio, muito perto da foz com o mar. O sol era quente, mas a brisa não deixava que ele sentisse os efeitos.
Vendo que ali não havia sombra por perto, deitou-se na areia branca, quase que com os pés dentro da transparente água azul do rio. Logo adormeceu e sonhou:
Em seu sonho ainda era um menino, nadava tranquilo pelas águas cercadas por dunas e que pareciam cansadas, chegando lentamente ao mar. Em sua volta, outras crianças brincavam de escorregar sobre uma pequena prancha de madeira deslizando nas alvas areias brancas, caindo nas refrescantes águas dos lagos formados pelo leito do rio que parecia não ter o objetivo de alcançar o mar.
Já com o sol vencendo a brisa, o andarilho acordou sentindo nas poucas áreas de seu rosto que não eram cobertas pela imensa barba e cabeleira, o ardume em sua pele. Meio desorientado o homem sentou-se e lentamente se ergueu em direção ao rio sem se dar conta e mergulhou de roupa e nem seu velho sapato lembrou de tirar.O frescor da água fez com que ele se esquecesse que ali entrara com tudo o que possuía, pois em sua mochila só havia alguns pães velhos e a lata com xibel, as escassas esmolas e até o velho canivete do qual jamais se separara.
Foram como que num ato de liberdade arrancadas juntas com os velhos trapos que vestiam e jogadas o mais longe possível.Completamente nu, o homem se sentia renascendo... algumas braçadas e a sensação de que já fora um grande nadador.
Os habitat não mudam muito em lugares isolados. Já não eram mais sonho e ele viu as crianças como em seu sonho, que a partir deste momento em sua mente mais pareciam recordações descendo as dunas e mergulhando nas águas do rio. Notara que havia algo estranho a alguns metros dali, estavam em cinco crianças, ele começou a preocupar-se, pois estava nu, o que não era diferente das crianças que brincavam ali.
Uma das crianças se aproximava dele. Meio sem jeito, pois a transparência da água pouco podia cobrir de sua nudez, tentou manter uma certa distància nadando no sentido contrario. Já estava quase na outra margem quando notou que a criança desaparecera, tentou localizá-la olhando junto às outras da margem oposta do rio, mas nada. De repente viu que algo se mexia no meio do rio que acabara de cruzar, voltou em largas braçadas... Lá estava o menino que tentara segui-lo, quase que sem fólego. Puxou a criança até a margem, na ànsia de socorrê-la não percebeu que nadara em direção as outras crianças que brincavam na outra margem.
Cansado, mas realizado por ter salvo a criança, deitou-se ainda nu na areia, fechou os olhos por alguns segundos e ao reabri-los não havia mais nenhuma criança ao seu redor.
Intrigado, olhou para as largas dunas que contornavam a lagoa formada pelo calmo rio.
Na água também nada havia. Era impossível que naqueles segundos que fechara os olhos, aquelas crianças desaparecessem por completo.
Já entardecia e o andarilho pensou, vou aguardar que anoiteça.Hoje é lua cheia e quem conhece o efeito da lua nas dunas e praias sabe que é como se fosse um dia, a claridade parece brotar da areia.
Ao anoitecer o homem nu caminhou através das dunas até uma choupana abandonada de pescadores na praia deserta.Lá havia algumas roupas velhas, mas que serviam bem como uma velha bermuda jeans e uma camiseta. Acostumado que fora em viver nas mais adversas situações, aos poucos encontrou ali tudo que necessitava. Acendeu o fogareiro feito no chão batido, encontrou alguns apetrechos de pesca e aventurando-se numa precária jangada por muito ali abandonada se sentiu dono do mar. Com tudo improvisado ao retornar pela manhã ficou surpreso com a quantidade de peixes que havia pescado.
Pouco depois avistou um veiculo que andava pela praia... era um comprador de pescados que fazia dali uma rota até a vila recolhendo os peixes. Ao ver a qualidade e fartura de tantos peixes o comprador logo se interessou pela produção e perguntou o preço ao andarilho.Desacostumado com negócios este simplesmente disse que queria somente um peixe e que o resto seria distribuído a quem quisesse sem nenhum custo.
Assustado o comprador avisou o andarilho que naquela região seria impossível encontrar tanta gente para consumir tamanha quantidade de peixes, pois nem no vilarejo que ficava a kms de distancia dali isto seria possível.
Neste momento o andarilho se lembrou exatamente porque um dia saiu daquele mesmo lugar e andou pelo mundo a procura de uma explicação. Lembrou-se das pessoas que lhe estendiam a mão e dos que o enxotavam como um animal. Foram tantos anos de privações e solidão que esquecera por completo o que procurava. Até que... naquele momento percebeu que havia trocado:
- a fartura pela miséria.

- a natureza rica dos rios, dunas e mar compartilhadas pela selvageria a que se submetera em várias grandes cidades.

Só lhe restava um pensamento:

Saí pelo mundo à procura de tudo, voltei sem perceber e encontrei de onde parti tudo o que procurava.


Nós também corremos ou simplesmente andamos num mundo, feito redondo, talvez de propósito, para no final de nossa jornada percebermos que não existe começo... nem fim. Somente o longo caminho às vezes belo, às vezes tenebroso, mas, sempre estaremos percorrendo -o até como o andarilho...
nos lembrarmos do inicio de tudo.


J. Ruy

http://www.tripdaareia.com.br/recomendados/travessia_listagem.php3


Obras Físicas Publicadas:

É Preciso Saber Viver

Superando Obstáculos. Há um novo caminho.

Estande na Bienal:Noite de Autógrafos 18/03/2006 as 19:00 hs
Editora Tecmedd - Selo Novo Conceito localizado na AV.04 - RUAS F/G
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