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Cronicas-->Revoada de Beija Flores -- 10/03/2005 - 12:22 (Antonio Jose Laurindo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era mais uma manhã qualquer de um dia qualquer de inicio de Primavera, o sol brilhava com um brilho mais forte, aquela brisa suave de final de outono teimosamente ainda persistia em soprar naquelas manhãs, as flores no jardim e nas árvores já começavam a desabrocharem pontilhadas pelo orvalho da manhã, os pássaros alegres e saltitantes gorjeavam saltitando de galho em galho como uma sinfónica, o voluntário naquela altura da manhã já havia terminado sua lida lá na horta, o aroma perfumado do café da manha já exalava pela vizinhança, enquanto tudo isso acontecia todos já se aproximavam para mais um café da manhã naquele abrigo de idosos.
Aqueles que gozavam de uma boa condição de saúde física já haviam praticado sua caminhada matinal, os que não tinham as mesmas condições também já haviam aproveitado aquele sol matinal, conduzidos por monitores voluntários e colaboradores. Dentre eles eu pude ver e reconhecer aquele individuo esguio sentado em uma cadeira de rodas tomando seu banho de sol matinal, sua aparência era sadia, sua condição física já debilitada, infelizmente ele nunca na vida tinha tido a oportunidade de conhecer o sentido da audição e por consequência disso da fala, portanto eu não poderia falar com ele porque não iria me ouvir, me aproximei e percebi que ele olhava profundamente para um ponto qualquer de um horizonte infinito, prostrei-me diante dele e percebi que ele não desviava o olhar daquele ponto, foi então que percebi que ele também não poderia me ver, pois perdera a visão, uma das únicas formas da qual se comunicava com as pessoas e o seu meio ambiente.
Fiquei sem ação sem saber o que fazer para tentar uma forma com que ele me reconhecesse, foi então que percebi que não havia uma forma de me comunicar com ele para que isso fosse possível, então me restou abraça-lo e conforta-lo diante da impossibilidade de outro tipo de comunicação.
Depois do abraço pude ver um brilho nos seus olhos e um largo sorriso em seus lábios como se estivesse feliz por haver me reconhecido, sei que não me reconheceu porque isso seria impossível, mas me senti como se tivesse, porque pude ver sua felicidade em receber aquele abraço. Aquele individuo é um conterràneo nosso vindo lá dos Gerais nos anos 50, ele sempre foi deficiente físico de audição e voz, não posso deixar de tirar de minha vida a imagem que guardo quando de minha infància ele frequentava minha casa e a casa de muitos dos moradores ali do Morro do Querosene oferecendo generosamente seus pequenos serviços, como varrer a casa ou o quintal apenas como uma forma de amizade e convivência harmoniosa, foi sem dúvida nenhuma uma figura marcante em minha infància e na infància de tantos de minha geração que hoje se encontra humildemente asilado em nosso Abrigo cercado de carinho, amparo e amor, justamente merecido.
Quando voltei para casa e pude refletir mais friamente sobre aquele momento sublime que acabara de viver pude perceber porque nosso criador nos fez dotados de órgãos tão importantes para nossa sobrevivência no mundo, duas pernas para sustentação do corpo e para locomoção com agilidade, dois braços e duas mãos para executarmos nossos trabalhos e nosso equilíbrio, amparar nossos irmãos e um abraço afetivo, dois ouvidos para audição, dois olhos para visualizarmos a beleza do mundo em que vivemos, narinas para o olfato, boca para nos alimentarmos e acima de tudo a sensibilidade afetiva para nos relacionarmos com as pessoas através da amizade e do amor.
Que possamos reviver muitas outras manhas de primavera com o perfume das flores exalando seu odor e embriagando as relações afetivas entre nós seres humanos em busca da boa convivência.

Laurindo (direitos reservados)
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