UMA REFORMA PUXA OUTRA
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Guardadas as devidas proporções, toda família passa por momentos de dificuldades. E todas elas, de algum modo, dão a volta por cima e encontram maneiras para solucionar ou amenizar as marcas do sofrimento.
Lembrei-me, a propósito, das dificuldades de um pai de família, nosso vizinho e amigo; da sua luta para resolver problemas de ordem financeira. De uma hora para outra, viu-se, nosso amigo, desempregado. E as dívidas, a começar pelo aluguel, acumulavam-se como bola de neve, crescendo, Ã cada mês, alimentadas pelos juros dos agiotas de plantão.
Mas o nosso amigo não se deixava abater. Bem humorado e otimista, fazia das tripas coração para resolver a pendência: uma promessa aqui, uma palavra de conforto acolá, sempre no sentido de amenizar as dores de seus dependentes, para a proteção dos quais tinha o dever natural, imposto pelas circunstàncias, tal como fazem cada líder no mundo dos animais selvagens.
Certa vez, nosso amigo chegou em casa, e diante da tristeza estampada no rosto de seus entes queridos, não teve dúvidas: era preciso promover mudanças imediatas; quebrar rotina; trocar afazeres e responsabilidades, para atingir objetivos colimados: melhorar o clima de desconforto daquela população, no pressuposto de que, a médio e longo prazos, tudo seria resolvido e todos devidamente beneficiados,. Assim dizia o nosso amigo, em tom de candidato em palanque eleitoral.
Diante dessas lembranças, não pude deixar de traçar elo comparativo entre a situação vivenciada pelo vizinho e a reforma ministerial, em curso, conforme noticia a mídia.
Os jornais dão conta de que a reforma já está quase pronta; e do bolo já se especula para quem seria destinado alguns pedaços: o PMDB ficará com a Previdência e Integração. Parabéns para os novos (?) integrantes, que esperaram tanto, na fila, para que seus desejos fossem atendidos.
Para o PP, de Severino Cavalcanti, que recentemente deu o que falar com a história do arquivamento do processo do PSDB contra o discurso de LULA, o Ministério do Trabalho; apesar de que Lula não tinha nada que falar a respeito de FHC; mas, fazer o quê? Se não há empregos, o trabalho, no Ministério do PP, será bem menor. Mas já é de bom tamanho, considerando o ingresso do chamado "baixo clero", na política do "e também quero".
Roseana Sarney vai para a Pasta de Comunicações ou para o Ministério das Cidades. . Como diria o Chacrinha, "quem não se comunica, se trumbica". E Ciro Gomes, estaria cotado, pelo seu vigor físico, para a Saúde. Mas tudo ainda está para ser concluído. O bolo poderá sofrer alterações de enfeites, mas a sua composição básica, a massa, já está pronta: farinha do mesmo saco. Para o turismo, muita gente espera ser indicado.
Provavelmente, a história do nosso pai de família se repetirá. A mudança trará novo ànimo. Assim esperam todos os que estão empenhados em arrumar a casa. A sala de visitas está sendo arrumada com esmero; o perfume do eucalipto toma conta do banheiro; os móveis - limpos e brilhantes -, já ocupam novos lugares; roupas de cama e mesa foram trocadas. A geladeira está abarrotada de bebidas e comidas para a grande festa da transformação. E a TV passou para um lugar mais estratégico: onde todos poderão ver e ouvir as novidades anunciadas com pompa, em cadeia de rádio e televisão. Um novo futuro se descortina.
Todavia, a festa terá pouca duração. Um ou dois meses, no máximo: quando todos perceberão que, a rigor, nada mudou de fato. os móveis são os mesmos; idênticas, as promessas; iguais, os problemas
Geralmente, as reformas não dão em nada. Melhor seria reconstruir. Desde as fundações: usando material novo: cabos de aço, tijolos e cimento de boa qualidade; um projeto de engenharia política e um bom mestre de obra. O resto é propaganda enganosa. Rinha de galo, onde poucos ganham e se divertem, enquanto os que lutam, morrem na arena, sem dó e sem piedade.
09 de março de 2005
|
