O amor "Phileo" é um tipo de amor altruísta, universal, que se preocupa com a necessidade de seu semelhante. "Phileo" é sinónimo de amor "Agape", porém com uma conotação um pouco diferenciada. O amor "Phileo" se manifesta na caridade ao próximo. Ele difere do amor "Eros", pois não impõe condições de reciprocidade, você não precisa me amar para que eu lhe ame. Ele faz com que venhamos a nos compadecer da miséria alheia e se possível busquemos suprimir o infortúnio das pessoas que estejam à nossa volta.
O mundo carece enormemente desse tipo de amor. Cada vez que nos olhamos uns para os outros parece que nos olhamos com maior estranheza! As pessoas não confiam mais umas nas outras. Abrir as portas para acolher quem vem de longe virou lembrança dos tempos da hospitalidade! Interfones e olhos mágicos invadiram os nossos espaços do saber quem é você? Como você vai? Já não arriscamos sequer a ajudar com uma carona a quem se envolve em acidentes nas ruas! Que mundo é este o qual vivemos?
Uma amiga, consternada, contou-me um incidente que ocorrera com ela há alguns anos. Era de madrugada e fazia muito frio. Ela foi acordada por uma pessoa gritando embaixo do bloco onde morava. Era um pedinte! Gritava bem alto: Por favor, dê-me um prato de comida. Joguem uma roupa velha pela janela! Ela se levantou, acendeu a luz do quarto, entreolhou pelas làminas da persiana e achou que se tratava de uma pessoa bêbada!
Antes de desligar a luz e voltar para a cama, ouviu ainda algumas janelas de apartamentos vizinhos serem cerradas e observou algumas luzes se apagarem. O mendigo conseguiu de alguma forma entrar em uma das portarias. Acomodou-se em um canto. Encolheu-se entre os braços e dormiu naquele piso, frio, de ceràmica. Ao amanhecer havia embaixo do bloco um movimento de carros de polícia, ambulància e corpo de bombeiros. O pedinte havia morrido de frio e inanição.
O amor "Phileo" nos assedia e nos confronta em muitas circunstàncias. Quando somos, por exemplo, abordados por um mendigo que pede comida. Ou, paramos o carro nos semáforos e uma criança, para ajudar os pais, nos oferece um tablete de chocolate e uma caixinha de "chicletes", em troca de alguns centavos. Sentimentos de caridade movem nosso coração no sentido de dividirmos com o necessitado um pouco do que temos. E quando podemos fazer isto temos a sensação de que ajudamos a tornar o mundo um pouco mais humano. Esse tipo de amor nos acompanha em nossa vida diária!
Certa lenda nos conta que dois irmãos se perderam em uma tempestade de neve. Caminharam muitos quilómetros até chegarem a uma aldeia bem distante, onde encontraram socorro! As pessoas do lugarejo ficaram admiradas por terem caminhado tanto tempo e por não se congelarem na nevasca. O irmão mais velho havia colocado o menor sobre os ombros e o carregou até à quela cidadezinha. Perguntado como conseguira tal façanha, ele falou que o corpo de seu irmão o aquecia enquanto caminhavam juntos. Um aquecia ao outro, isto foi o que revigorou suas forças! Questionaram se ele não havia se arriscado demais jogando todas as cartadas ao decidir trazer o irmão sobre seus ombros. E, também, se não seria mais sensato deixá-lo no meio do caminho e, sozinho, vir buscar socorro. Por fim, questionaram ainda, se não seria o seu irmão pesado demais para ele carregar! A essas perguntas respondeu o rapaz prontamente: Ele não é pesado, ele é meu irmão! Este foi o pensamento que me deu forças e me motivou no caminho! Cada vez que pensava na real possibilidade dele morrer, as minhas forças se multiplicavam! Eu não tinha tempo para pensar em mim! Eu só queria o bem estar dele! Ele não é pesado, ele é meu irmão! Com base nesta lenda foi feita a música "He ain´t Heavy He´s My Brother", gravada pelos "The Hollies", cuja letra deixo no fim desta crónica para vocês lerem. Vale a pena baixá-la na internet para lembrarmos a melodia da música! Antes de terminar, porém, quero deixar, alguma coisa para refletirmos nela!
Houve um intérprete da lei que perguntou a Jesus Cristo: Mestre, qual é o grande mandamento da Lei? Respondeu-lhe Jesus: Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o grande mandamento! O segundo, semelhante a este, é: Ame o seu próximo como a si mesmo! (Mateus 22:35-39).
Brasília (DF), 05/03/2005
ELE NÃO É PESADO, ELE É O MEU IRMÃO
(He ain´t Heavy He´s My Brother)
Gravação: The Hollies
A estrada é longa com muitas nevascas
Isto nos conduz ninguém sabe para onde,
Ninguém sabe para onde,
Mas eu sou forte, forte bastante para o levar
Ele não é pesado . . . Ele é meu irmão
Assim nós vamos seguindo em frente
O bem-estar dele é a minha preocupação
Nenhum fardo ele pode aguentar
Nós chegaremos lá
E eu sei que ele não teria nenhuma condição
De tomar conta de mim
Ele não é pesado . . . Ele é meu irmão
Eu não estou sobrecarregado de forma alguma
Eu estou sobrecarregado de tristeza
Mas é pelo coração de todas as pessoas
Que não estão cheias de alegria
E de amor umas pelas outras
Esta é uma estrada longa, longa e da qual não há retorno
Enquanto estamos caminhando para lá
Porque não dividirmos as cargas
E a carga não me é pesada de forma alguma
Ele não é pesado . . . Ele é meu irmão
