Numa manhã de verão, um homem observa um sol jovem e atrevido , invadir sorrateiramente sua janela e chamá-lo para a vida. Levanta, toma seu café com pão apressadamente e antes de sair vai ao quarto de sua filha. Ela está dormindo e tem nos lábios o suave sorriso da Mona Lisa. Imagina então, o seu olhar de decepção quando acordar e procurá-lo para ir à praia.
Hoje é seu dia de plantão. Deixa para trás o seu gostoso papel de pai e companheiro e incorpora o fascinante e difícil ofício de médico.
No hospital, uma fila imensa vai se formando na ladeira. Nos corredores, crianças " internadas" por falta de vagas. No seu consultório , após pegar receituário, papel carbono e arrumar sua mesa, ainda não pode iniciar o atendimento. Como o Pronto Socorro fica localizado num porão sem iluminação e ventilação adequada, necessita de luz acesa mesmo numa manhã incandescente de verão.
Decide então, como eletricista amador, subir na mesa do consultório para apertar uma das làmpadas fluorescentes que insiste em piscar, ofuscando ainda mais, sua míope visão. Uma paciente vendo tal cena, entra em pànico e procura a portaria,
Moça, quero falar com a direção do hospital ! Tem um médico em cima da mesa. Acho que ele está drogado! Alheio aos acontecimentos, ele inicia o seu verdadeiro papel no teatro da vida : a de médico drogado, intoxicado sim, mas pelo descaso dos órgãos público com a saúde e o povo em geral.
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