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Poesias-->ENVELHECER -- 04/09/2008 - 11:20 (Délcio Vieira Salomon) |
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ENVELHECER
Délcio Vieira Salomon
em janeiro de 2008
Aos setenta e sete anos
não sinto que envelheci
- sinto que me envelheço..
Não me sinto o produto,
mas o próprio processo.
Ainda não direi como Neruda:
- "confesso que vivi".
Voltado para dentro de mim
vejo que não me envelheço
para morrer
- me envelheço para viver!
Não me causa pejo confessar:
- ao envelhecer, estou descobrindo
o que é verdadeiramente viver.
Hoje me surpreendo:
- o que é envelhecer?
Apenas sei:
minha visão da vida
se alargou.
Aprendi a amar a mim mesmo
de modo diferente.
Honestamente amo muito mais o outro
e o que ele faz
que a mim mesmo.
Sinto que estou amando
muito mais a singularidade
de cada um
do que a totalidade do ser humano.
Sim confesso:
-sinto que meu amor é diferente
até daquele que existe no
"amai-vos uns aos outros como a vós mesmos"
que emblematizou a mensagem de Cristo.
Longe de mim ostentar nietzschianamente
que superei o cristianismo,
mas honestamente não me fazem mossa
seus preceitos e seus mandamentos
nem a esperança de um paraíso
em troca da desvalorização da Vida.
Jamais me permitirei
alcançar o futuro
em troca da perda do presente
e da serenidade
que este presente me traz.
Neste aqui e agora em que vivo
sinto um amor intenso,
porque vivo a supressão do tempo.
e a ruptura dos limites de meu lugar.
Sinceramente, honestamente
já não tenho medo de amar.
Não me preocupam as formas do amor
sua tipicidade e sua atipicidade.
Amo, simplesmente amo o e no presente
tanto quanto amo intensamente
à distância e a própria distância,
certo de que na outra ponta
existe alguém que realiza
meu próprio amor,
mesmo sem saber,
mesmo se não quiser...
Sinto o amor constantemente presente.
E este presente é um momento de eternidade
- a própria eternidade
em fluxo de tranqüilidade.
É isso que está sendo
o meu envelhecer.
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