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Contos-->Brusco Perfil de Maria -- 20/10/2007 - 19:32 (julio saraiva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Maria está cada vez mais louca. Alucinada. Fala sozinha. Gesticula. Xinga. Ergue a saia encardida
e exibe o sexo aos homens que passam.
- Vem meter, vem - ela provoca.
Como não lhe dão ouvidos, ela desfia um rosário de palavrões. Seu sexo é uma estrela murcha sem brilho. Um ou outro mendigo encachaçado serve-se dele de vez em quando, ali mesmo embaixo do Minhocão.
Quando o humor está em alta, o que é raro, Maria canta uma canção de Roberto Carlos, e diz que foi composta para ela. Essas canções que ela canta são lembranças do tempo em que ainda podia contar com a lucidez. À noite, já bêbada, recebe a Pombagira Cigana, e aí então o caldo entorna. Atira-se sobre os homens. Alguns se desvencilham discretos, outros, de pouca paciência, dão-lhe empurrões, trancos e safanões.
Maria esqueceu o sobrenome. Mas isso a essa altura do campeonato não faz a menor diferença. Gosta de ler. Tem jornais dentro da sacola em frangalhos. Jornais velhos, notícias velhas, mas para ela sempre atuais.
Além das canções de Roberto Carlos, compostas para ela, claro, Maria se recorda da longa temporada vivida no Juqueri. E parece ainda sentir no corpo os choques elétricos que recebia todos os dias. Uma noite foi enfiada dentro de uma perua Kombi e despejada no olho da rua, se é que rua tem olho. No meio de tanta desgraça, melhor a rua do que o hospício, onde apanhava dos enfermeiros e de outros internos, nos quais batia também. De certa forma, Maria aprendeu a se defender.
Alguém conta que em tempos passados tivera o seu homem.Quando ele se viu endividado até o último fio de cabelo, meteu uma bala no ouvido, colocando ponto final na existência.
Maria não meteu bala no ouvido, mas rompeu com o mundo e desandou a beber, torrando o pouco que lhe havia restado. E como desse pouco ainda tivesse sobrado um pouco, um sobrinho canalha apossou-se desse pouco e colocou a tia no hospício do Juqueri.
Numa sexta-feira santa, Maria muito bêbada, comprou um litro e álcool Zulu, despejou no corpo e riscou um palito de fósforo. Antes que se tornasse tocha humana, surgiu uma alma piedosa, e com o paletó conseguiu abafar o fogo. Maria foi levada para a Santa Casa, porque, apesar do fogo ter sido abafado as queimaduras eram muitas.
Um mês depois da tentativa de suicídio, Maria voltava às ruas, agora cheia de cicatrizes. Mais cicatrizes na sua vida. Mas ela não ligou importância.Acredita que, amanhã ou depois, Roberto Carlos se lembrará dela. E irá até o Minhocão buscá-la com um buquê de rosas brancas. Então, casada com ele, terá boas roupas, comida farta na hora certa e muitos empregados à sua disposição. À noite, caso não tenha compromisso, o ídolo, agora marido, cantará em seus ouvidos. E Maria, depois de mandar tudo o mais para o inferno, será feliz para sempre.


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