Carta de Um Convidado
(por Domingos Oliveira Medeiros)
LULA, não sou penetra. Nasci aqui, e fui convidado para a festa do crescimento. A festa do “arromba”. Desde que Roberto Carlos ainda era um pequeno príncipe. A festa muitas vezes anunciada e adiada. Sempre adiada. Disso não se pode reclamar. No país do futuro, não temos futuro. Então, que se tenha, pelo menos, o presente. Um pedaço de bolo.
O que é que está faltando? Chocolate? Açúcar? Cerejas? Ou vontade política? Ou a receita? Ou o doceiro? Estamos com água na boca, faz tempo.
Não posso mais esperar. Tudo aqui é prometido e demorado. Tudo escondido. Nada declarado. Ou aclarado. Distribuição de renda? Não há quem entenda. A frase cunhada: “Os ricos, cada vez mais ricos”. E os pobres? Não posso dizer o quer vem depois do “cada vez” em relação aos pobres. Que o digam sua miséria e tristeza constantes. Mas, que fazer com a outra frase? Aquela que diz que o “nordestino é, antes de tudo, um forte”. Povo de sorte. Que não morre nem de fome. E já estão de promessa nova: comer três vezes ao dia. Não seria isto um exagero? Principalmente para quem não está acostumado? Já pensou se eles passarem mal com tanta comida? Quem será responsabilizado?
Companheiro! Não tenho mais tempo. Quero meu pedacinho de bolo. Já! Pode ser com água mesmo; sem o guaraná. Água de açude ou da transposição do rio São Francisco. Aquele da unidade nacional.
Será que você está preocupado com a saúde do povo? Você deve estar pensando que todo brasileiro pobre é diabético; desde pequeno. Mas, e se fosse? Diabete pode e deve ser controlada. Não é motivo para ficar fora do bolo. Todos têm direito ao seu pedacinho. Nem que seja bolo sem açúcar. Para quem não gosta ou não pode comer doce.
Que tal prometer umas esfirras? Quibes? Alguns pastéis com caldo-de-cana. Caldo de cana é junto ou separado? Ou tanto faz? Do mesmo jeito que você mudou de lado?
E o Nobel da Paz? Você está preparado para receber o prêmio? Você acha que merece? Vai ter bolo no dia da festa do recebimento? E você dará bolo, novamente, na sua gente? Ou vai dividir o bolo com a gente?
Afinal de contas, quando o tempo passar, e você voltar a ser cidadão comum, como foi um dia, como somos hoje em dia, você irá brigar pelo seu pedaço de bolo? Ou não irá mais às festas regadas ao milagre do crescimento? Você acredita em milagres?
