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cronicas-->A PLÊIADE DA PRAÇA -- 16/02/2005 - 22:03 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A PLÊIADE NA PRAÇA

Francisco Miguel de Moura
(Da Academia Piauiense de Letras)

Mais ou menos às nove horas, ia Osmundo Vergado passando, distraído, tranquilo, pela Praça João Luís Ferreira, quando dá de cara com o grupo: Afonso d Ávila, Osmarzinho e Elmo de Aleixes.
Ele, então, foi se chegando, enquanto se vira para os seus botões, que, aliás, não estavam todos a postos: um havia caído no começo da noite anterior:
- Hoje a praça não é mais do povo! Castro Alves coraria de raiva.
- É, mas somos todos velhos. E velho anda como sapo pula: não porque quer, mas por necessidade. Foi o que observou, sem querer, o poeta Afonso d Ávila, como que cascavilhando no bolso um poema, ou a anotação de uma anedota (para não esquecer de contá-la).
Vergado não deu bolas para o leriado, pois saíra de casa com atraso, depois de escriturar seu livro de pensamentos. Ainda vinha com alguns na cabeça. Além disto, a manhã não estava nada boa, o sol escondendo-se dentro de um nevoeiro denso. Não fosse a necessidade de conversar, não teria saído.
Mas logo repensou, a «rodinha» era um prato cheio para o seu espírito preguiçoso e pessimista. Uma piada aqui, um dito chistoso ali, e o «moral» logo levantaria para novas investidas. Comentavam o que leram e o que deixaram de ler. A última festa, o último lançamento, quem estava, quem não compareceu. Estas e outras futilidades que surgem, proliferam, despreocupadamente, em conversas de rua, onde o riso nem sempre demonstra que se acaba de contar a melhor piada. (O riso do Bebeto é sonoro e estridula centenas de metros adiante e atrás, lembrou. Mas ele não estava ali.)
Da vida prática, pouco falavam. Que a prática é uma coisa aborrecida entre intelectuais. Necessário esquecê-la.
O diálogo ia esquentando, entretanto:
- O gaúcho de ontem é um poeta e tanto, não é? - pergunta o cronista Osmar.
- Conheci-o em 1979 e já era bom. Tinha outra mulher. Agora apanhou uma capixabinha.
- É, exalta-se o cronista. E completa: Fui quem inaugurou o costume aqui.
Daí em diante a conversa não prestou mais não. Porém persegue o mesmo rumo.
- Souberam não? O barítono Raimundo Pereira, aquele que faz um tempão voou para o sul, está acontecendo lá, não como músico, é o que informa o poeta Ávila.
- É verdade que está escrevendo um «bichionário»? intervém Elmo de Aleixes.
- Ora! Antes, já saiu numa revista de grande circulação, com artigo sobre o assunto. Foi um espanto.
- Espanto vai ser quando mexer com os «enrustidos». Eu queria mesmo era que aparecesse um bom, que fizesse trabalho semelhante com os «pombocas», diz o Osmarzinho.
Pegando a deixa do Osmar, Elmo de Aleixes atalha:
- Mas eu, felizmente... ia-se formalizando, meio nervoso.
Sofre a interrupção de Osmundo Vergado:
- «Não se apresse não, baião dois», como diria também o Caetano Veloso, que seu dia chegará. O tempo é implacável.
Enquanto Osmar e Elmo desenvolviam aquele alto raciocínio, querendo interrompê-los mas não interrompendo, A. A. acrescenta, sobre o «bichionário», só para bancar o machão:
- Esse, com certeza, não vou ler, nem consultar. Não me interessam seu artigo nem o livro. Aliás, a esta altura, já deve ter mudado o nome para «Raimundó Perreirrá». E soltou uma gargalhada.
Um menino magrinho ia passando naquele instante, caiu, e todos acorreram para levantá-lo. Felizmente não chorou. Nem estava acompanhado por ninguém. Seguiu o seu caminho. O caminho dos meninos de rua, abandonados.
Não sei porque cargas d água, gratuitamente, pois nem a hora se aproximava, o cronista (Osmarzinho) disse que era como cachorro, almoçava na rua.
Aqui entra Osmundo Vergado, com sua verve nada original, ao invés, bastante popular, e destampa:
- Isto é que é bom, pois já chega em casa comido.
- E aí come de novo, responde Osmar, com muita ênfase.
Já estavam se despedindo, um ia tomar um cafezinho e fazer a fé na loto; outro, passar pela Fundação Cultural para resolver um caso da revista; o terceiro tinha um livro na gráfica, em revisão. E o Osmundo Vergado também cuida de muitos afazeres. Mas não disse nada, esperou pacientemente. Até que, por fim, Osmar desembuchou a última, a saideira, a bomba:
- O Roberto Carlos me falou que escreveu um artigo sobre seu livro e entregou-o ao jornal. Está metendo o pau, me disse, e pediu segredo. Mas eu não sou baú velho.
Osmundo coçou a cabeça, afilou o nariz e parece que fechou os olhos miúdos (é um sinal de quando fica meio surpreso, tonto, com uma notícia, quando tem uma surpresa desagradável):
- Lamento, mas o assunto é pra Nelito, o colunista do jornal.
Logo com ele?! Não tem medo de crítica. Mas pediu-lhe um prefácio em confiança, não um artigo. Jamais iria implorar elogios, seria feio e deprimente. Mas, não. Não póde evitar a explosão de raiva:
- Quem é esse zoilo, esse criticozinho de m...? Esse Roberto Carlos?
Claro que a pergunta não merecia resposta alguma. Todos sabiam que Osmundo sabia quem era o crítico.
Assim, a plêiade tratou de encerrar os trabalhos do dia, sem uma resolução sequer. Como aquele grupo de poetas que se reúne no bar da Maria Gadelha, derriba autores e livros e cria novos movimentos e revoluções nas letras, os quais não resistem sequer até o amanhecer.




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