E Pindorama virou Brasil !
Durante todo o tempo que antecedeu a nefasta e odorífera chegada dos portugueses a PINDORAMA, viviam nossos silvícolas das maravilhas e benesses desta abundante e voluptuosa terra. Banhavam-se em rios impolutos,comiam alimentos oriundos da natureza,pródiga em fazê-los desprovidos de venenos ocultos ou aditivos de origem duvidosa, refestelavam-se ao sol, que o maximo que lhes dava era o agradável calor e a coloração típica dos que sem medo sob ele vivem,praticavam um sexo limpo, despudorado,livre de inibições e das limitações embutidas e acopladas por falsas e dúbias morais; cultivavam o amor entre si mesmos e a guerra entre inimigos, definidos e honrados no combate e na morte.Nada possuíam, e o que tinham, era propriedade para e de todo o grupo; nômades, desconheciam e abominavam o conceito de propriedade privada, pois mesmo as crianças, eram parte da tribo, e não dos que os prazerosa e biologicamente fizeram. Viviam no paraíso que batizaram como PINDORAMA, sem pecados originais,sem culpas e sem cobranças, apenas a sensação de liberdade e independência, que vive nos sonhos dos que são capazes de sonhar mesmo quando despertos, não possuíam traidores ou vendilhões dentro de um mesmo grupo, todos tinham como interesses fundamentais, a proteção,a manteneção e o bem estar do grupo ao qual pertenciam. Se um caçava, o fruto de seu trabalho era dividido entre os membros de sua tribo, tirava o que lhe era suficiente e o restante ia para o todo; se ganância cobiça ou usura,não invejavam, agiam, não cobiçavam, possuíam, tudo o que queriam era a verdadeira vida, sem pressa e sem malefícios.
Bucolicamente, adoravam a natureza e suas crias, sem os rancores oriundos dos deuses ranzinzas, limitadores,castradores e mandões, permitiam, o livre arbítrio e o censo de responsabilidade pelos atos e atitudes tomados; as punições eram severas e justas,não havia impunidade ou “carteiradas”, aqui se faz,aqui se paga; pura e simples lógica da justiça pura e coerente dos que sabem ser justos.
Acreditavam estar aqui para proteger as benesses que lhes foram confiadas pelos deuses para preservarem suas existências e as de suas futuras gerações, não poluíam, degradavam, ou dizimavam, não roubavam ou conspiravam, tinham regras rígidas e imutáveis de caráter e de conduta, não as negociavam ou “amaciavam”, tratavam a todos igual e justamente, respeitando as individualidades quando estas não comprometiam o grupo.Viviam em harmonia com o meio ambiente e dele cuidavam por terem a consciência clara de que dele dependiam, para a própria existência.
Foi então que em um belo e insuspeito dia, eles chegaram, em seus grandes barcos e com suas caras peludas, seu mau cheiro, suas roupas engraçadas e sua língua estranha e hipnótica, chegaram receosos e imediatamente foram acalmados, com uma recepção digna de quem sabe receber, com o coração aberto e a alma radiante de alegria pela chegada de um novo povo; muito estranho e fedorento é verdade, porém poderiam ser novos amigos e aliados na preservação de PINDORAMA. Foram imediatamente apresentados as benesses e belezas naturais da terra, frutas,peixes,caças,fêmeas,sol,mar,paz e harmonia; mas os estranhos, demonstraram interesse apenas nas pedras amarelas e nas coloridas, para nós sem valor algum, e usadas exclusivamente para as brincadeiras das crianças. Demonstravam um interesse desmedido e fora de propósito, por coisas que para nada serviam e ignoravam solenemente o que realmente dava sentido a vida; em seu interesse pelas fêmeas, não existia carinho, desejo, paixão, para elas sequer olhavam e quando o faziam, era como se quisessem enganar-nos que em verdade não estavam olhando e quando finalmente alguns deles, se aproximaram delas, foi com violência e ódio e não com amor e prazer, parecia que se faziam estavam errando, se não faziam ficavam incontroláveis e violentos com a frustração e o desejo; os poucos aos quais as fêmeas consentiram intimidades, alem do tradicional fedor de seus corpos sem banho; de seus apêndices, escorria uma gosma amarela e também fétida, muito antes da penetração; nunca nada assim foi visto antes pelos filhos da terra . Logo depois as fêmeas adoeceram e os homens de Pindorama que nelas penetraram, descobriram da pior maneira o que era aquela gosma amarela e ardida; muitos morreram pouco tempo depois.
Depois, de pegarem todas as pedras das crianças, quiseram mais, e mais lhes foram dadas e eles quiseram mais e mais e mais, sempre mais, quando nada mais havia, mataram muitos de nós para que lhes mostrássemos onde havia mais, como não queríamos mais eles por perto, não lhes dissemos, e mais foram mortos.Povo estranho, a primeira palavra que aprendemos de sua língua, significou morte para nós: _ Mais, mais sempre mais, e nós morrendo!
De repente, encontraram um outro objeto de fixação e de ganância, uma árvore, da qual tirávamos a tinta vermelha que nos pintávamos e com a qual, tingíamos nossas redes e fazíamos representações gravadas nas pedras do nosso dia a dia e também com a qual enfeitávamos nossos potes, jarros e vasos, por esta arvore, não apenas nós morremos, mas também as arvores em si, todas elas uma a uma cortada e transportada morta para os barcos que os trouxeram e agora serviam de túmulos flutuantes para a natureza, para nossa cultura, para nossa paz e certamente para nosso estilo de vida. Após a partida daquelas fétidas e tristes figuras, mais de nós ,muitos mais morreram e continuaram a morrer, por muito tempo depois que se foram, levaram também em seus túmulos que flutuam, muito de nós amarrados como as aves e os animais, que antes corriam, voavam e cantavam livres pela terra que se chamava PINDORAMA.
Não muito tempo depois da partida, pois para nós voltar a vê-los, faria com que milênios se transformassem em segundos, tamanho o asco que já sentíamos só de falar sobre as criaturas, sendo este outro sentimento, que desconhecíamos e nos foi por eles apresentado; eles voltaram, porem desta vez tudo foi diferente, preparamos um grande grupo de guerra, os mais bravos entre os bravos, desta vez estávamos decididos a não permitir que pisassem em nossa amada terra ; muito e bravamente lutamos, lado a lado antigos inimigos, puseram de lado suas diferenças e juntos atacaram a verdadeira ameaça a todos nós ; foi um massacre, seus paus de fogo e as bocas de fogo em seus barcos, não nos deram chances, para cada um que encarava a borduna quarenta dos nossos caiam, foi uma luta sem tréguas e sangrenta; quase todos morreram e os que escaparam foram amarrados e levados para trabalhar cortando e carregando mais madeira vermelha, para os conhecidos túmulos flutuantes ;em pouco tempo ficava mais e mais( a palavra que significa morte) difícil encontrar a madeira que eles tanto queriam, e muitos de nós simplesmente passaram a se deixar matar ou simplesmente pararam de querer viver ; e assim, vimos que tudo estava acabado para as nações que antes viviam livres e em total harmonia com a natureza. Um dia a madeira acabou, não adiantava mais procurar, pois ela já não existia mais em nossa terra , eles ficaram muito enfurecidos e mataram muitos mais de nós, destruíram tudo o que podiam, poluíram os rios, matando os peixes, queimaram as matas, extinguiram muitos dos animais e das aves , deram ao ar que antes era puro e fresco, o seu fétido odor, envenenaram a comida e introduziram na terra todos os maus valores que não conhecíamos : _ Como a inveja,a mentira, a traição, a cobiça, a ganância,(*deram dois nomes a MAIS) a intolerância, a vileza, a covardia, a escravidão e o ódio, o sol virou sinônimo de morte e doenças; ´sobre nossa historia simples e verdadeira, impuseram a sua, tentaram nos matar a todos , talvez, para que não restasse ninguém, para falar o que aconteceu com o povo de PINDORAMA e assim pudessem criar a verdade que quisessem para esta terra e para sua existência .
Porem ai eles falharam, pois no silêncio das madrugadas escuras, ainda ecoa no vento o nome que deu origem a toda a opulência de um tempo de paz e felicidade , que não voltará jamais,porem existiu e foi aproveitado pelos que estavam aqui. De todas as maldades por eles cometidas, a que mais ainda hoje me incomoda e aborrece; pois para provar sua incoerência o nome da primeira vitima da sanha cruel deste povo, foi exatamente o escolhido por eles para chamar a nossa terra: _ E foi assim que Pindorama Virou Brasil !
|
