OBS.: Este Conto faz parte do livro:
"Eu Poético" – Autora: Rosimeire Leal da Motta
Editora CBJE - RJ - Agosto/2007 - Poesia e Prosa.
Este livro "Eu Poético",pode ser encontrado na:
- *"Biblioteca Pública Municipal de Vila Velha - ES".Tel.: (27) 3388-4208
- *"Biblioteca Transcol do Terminal do Ibes - Vila Velha - ES".
- *"Biblioteca Transcol do Terminal de Jardim América - Cariacica - ES".
- *"Biblioteca da Chocolates Garoto (Espaço Cult)
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Obs.: Texto narrado por meu pai, Pedro Sabino da Mota (1912/-)
Jiquiriça, município da Bahia, no tempo do cangaço e do coronelismo.
Meu pai, quando tinha 12 anos, estava parado, montado numa mula, conversando com um fazendeiro. Aproximou-se um vaqueiro cavalgando uma mulona e perguntou de maneira prepotente e arrogante, expressando claramente o seu preconceito:
– Negro, o Coronel Coimbra está aí?
Não respondeu.
Meu pai, silenciosamente, apontou com o dedo, revelando que aquele que ele procurava estava ao seu lado.
Imediatamente o recém-chegado compreendeu sua insensatez, tirou o chapéu justificando-se:
– Coronel, perdoa-me! Eu pensava que o senhor pelo poder e riqueza, fosse branco!
– O que você quer?
O vaqueiro lhe mostrou um envelope, no qual um documento informava a entrega de dois mil bois.
– Desça nesta estrada e na terceira cancela, há um rapaz para receber o gado. Ao terminar, venha almoçar comigo!
Chegando ao local indicado, acenou para meu pai, deu-lhe uma gratificação em dinheiro, dizendo:
__ Estou com medo que aquele negro me mate!
__ Não se preocupe: ele é uma pessoa boa! Desculpe-me, o senhor é um homem de idade e eu sou criança, mas, os ricos tanto podem ser gente branca como preta!
O vaqueiro subiu a escada que o levaria ao sobrado, encontrando o Coronel vestido de terno, gravata e chapéu brancos.
– Reconhece agora que eu sou o Coronel Coimbra? Vou lhe mostrar minha autoridade!
O vaqueiro ajoelhou-se desesperado e pediu perdão.
Havia um sino na parede da varanda onde estavam. O Coronel puxou a corda várias vezes, ecoando um som ensurdecedor. Surgiu então, uma multidão de “jagunços” negros (o mesmo que capangas, pistoleiros ou cabras). Impossível determinar a quantidade, pois sumiam de vista; todos usavam os cabelos e a barba longos e estavam armados com rifles de repetição. O Coronel fez um gesto com a mão para que fosse realizada uma demonstração das armas e eles fizeram pontaria para o vaqueiro. Este fechou os olhos, pressentindo o seu fim. Contudo, em seguida, todos se dispersaram.
O Coronel explicou que o almoço estava pronto e que depois tratariam de negócios.
Era o ano de 1924, trinta e seis anos após a abolição da escravatura no Brasil (hoje em 2007, cento e dezenove anos), épocas distintas, porém, comportamento idêntico na atualidade.
Para que adotar atitudes de desprezo com relação aos outros? O ser humano ainda não aprendeu a respeitar o seu semelhante, não entendeu o significado das palavras de Jesus: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mateus 22:39).
Atualmente, tal atitude é considerada crime contra a honra. Racismo. No código penal, a pena é de reclusão de um a três anos e multa.