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Contos-->Restos de Um Velório -- 28/09/2007 - 15:16 (Allegra Lillith) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Restos de Um Velório
(Allegra Lillith)




Eu morri...
Eu me suicidei...
Tinha 20 anos quando morri...

Nasci em 1909, e morri em 1929. Não posso precisar dias nem lugares onde minha vida iniciou e acabou-se,foi muito pouco o que consegui guardar na memória.Durante longos anos tentei me agarrar em algo, para que eu não me perdesse no mar do esquecimento, e terminasse por virar um espectro sem alma.
Eu estou vagando, sem luz e sem razão por anos à fio. Não sei o que aconteceu comigo, não posso compreender. Meu corpo parece vazio, oco por dentro. Sinto-me leve, mas ao mesmo tempo o passado pesa como uma pedra sobre meus ombros. Minhas últimas lembranças são olhos mortos, pele vazia, pó...Vento levando cinzas, restos de um velório. Rosas murchas e cheiro de vela queimada. Cinzas de um passado. Um corpo que está vazio por dentro,uma mente a guardar lembranças mortas.
Vazio. Escuridão. A minha esperança está morta, meus sonhos estão mortos. Eles morreram e estão à apodrecer. Não adianta chorar, pois eles não voltarão.


Eu estava vagando por uma floresta,o desespero já tomava conta do meu ser. Não queria mais voltar para aquele lugar. Não consigo mais ficar presa em um hospital, porque eu não sou louca! E também não quero voltar para a casa de meus tios, eu tenho medo deles, sinto que querem que eu sofra, me querem mal.
- Mamãe! Alberto, amado! Onde vocês estão, porque não vêm me buscar? Não estão me ouvindo chamar? Vocês precisam estar aqui,precisam estar em algum lugar.
Chovia, ventava muito forte, estava muito frio.Andei mata adentro por horas, minutos, dias, não faço a menor idéia de tempo.Até que cheguei à beira de um penhasco. Uma sensação de liberdade invadiu o meu espírito.
Olhei para a imensidão lá embaixo e me senti tão livre, era como se tivesse asas e pudesse voar!
Passado o primeiro momento, pensei que se eu fosse lá para baixo morreria. E morrendo, não precisaria mais voltar para o hospício onde me deixaram, não sofreria mais na casa de minha família!


Nesta hora lembrei-me do que minha avó me dissera tempos atrás, no dia em que minha mãe saiu de casa e não voltou mais:
- Filhinha, sua mãe morreu, não está mais entre nós. Papai do céu a
chamou para junto dele. Ela agora é mais um anjinho no céu. Mas não fique triste, pois um dia todos nós nos reencontraremos no céu.
Ao lembrar desta última frase, pensei que não encontraria minha mãe naquela floresta porquê não era ali que ela estava, ela estava no céu. E se eu caísse no abismo também morreria. Eu preciso morrer para encontrá-la. Diante deste pensamento senti um grande alívio, meu coração ficou leve de tanta alegria.
Fui me aproximando da beira do abismo. É lá embaixo que está minha salvação. Como não tinha pensado nisto antes? Lá está o fim de todos os meu problemas.
Minha salvação.


Meus pés foram escorregando na terra molhada. Neste momento tive a impressão de ouvir a voz de minha mãe vindo lá de baixo, ecoando por entre as árvores, por entre o barulho da chuva:
- Amanda entre, está chovendo! Venha, mamãe está mandando você pegar seus brinquedos e vir para dentro!

E continuei ouvindo a voz dela, enquanto deslizava ladeira abaixo...

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