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Contos-->VOLTEI AO PASSADO, NESSA HISTÓRIA DE AMOR... -- 26/09/2007 - 22:49 (getulio silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
VOLTEI AO PASSADO, NESSA HISTÓRIA DE AMOR...



De volta ao passado, lembro-me de um casal de velhos que moravam perto de minha casa, no interior da cidade de São Paulo. Eu e minha irmã tínhamos aproximadamente nove e sete anos, e gostávamos de ir comprar doces numa venda na outra esquina de nossa casa. E para comprar os doces, o trajeto era passar na calçada dos velhinhos, que sempre estavam sentados em duas cadeiras na porta de sua casa. Eram muito simpáticos!
Sempre sorrindo! E vem a minha memória que ela usava constantemente um lenço na cabeça e um vestido azul claro. O senhor não largava por nada nesse mundo, de uma bengala de madeira e tinha um nariz esquisito numa cara embaçada. Ah! E usava um chapéu tipo Cury ou Panamá.
Então, eu e minha irmã, pedíamos dinheiro para nossa mãe, que sempre perguntava:
- Vai compra o que?
E a gente respondia:
- Pirulitos e doce de leite!
E nossa mãe: Vão e não demoram, pois teu pai ta pra chegar... E outra coisa não passe na calçada daqueles velhos, nem aceitem o que eles lhes oferecerem e muito menos peguem nas mãos deles...
Aquelas recomendações me deixavam constrangido e quando eu perguntava:
- Porque não devemos cumprimentá-los?
- Ela respondia:
Isso é coisa de adulto e vai comprar esse doce logo!
Essa situação me deixava injuriado e ao mesmo tempo curioso. Até que um dia, afrontei minha mãe dizendo: Se não falar o porquê de não poder passar na calçada... Eu vou passar e ainda vou pegar nas mãos dos velhos e vou beijá-las também!
Neste momento, notei que a fisionomia de minha mãe ficou esmaecida e de sua boca saiu: - Está bem! O velho tem lepra, isso é uma doença ruim, que pega só de chegar perto!
E eu, não satisfeito com a resposta e muito mais curioso falei:
- Se só o velho tem a doença, então a doença não pega, pois a velha sempre esta sentada ao lado dele e também são casados!
Minha mãe ficou irritada e disse:
- Ela já deve estar com a doença, esta velha é muito teimosa!
- E eu: Teimosa?
Minha mãe: Cabeça dura! Não deixou o pessoal do Centro de saúde, interná-lo no Leprosário de Casa Branca...
Tudo isso era muito complexo, para um garoto de quase10 anos entender, dias depois fiquei sabendo que a velha estava leprosa. Todos da vizinhança comentavam por uma só boca:
-Não bastasse um, agora são os dois leprosos!
Era muito triste para nós criança, passar na sarjeta da calçada ou na rua sem poder parar para especular a vida dos velhinhos. Coisas que crianças adoram fazer!
Alguns anos depois, fiquei sabendo que aquela senhora não deixou internar o seu marido, pra não ficar longe dele... Preferiu contrair a doença por amor a ele! E uma cena, não me sai da cabeça: Os filhos e netos deles, quando levavam alimentos e presentes não adentravam a casa, colocavam os objetos na mureta do alpendre e ficavam conversando de longe... E ela resistiu à internação do seu amado, pois sabia que a visita ia ser dificultada e restrita, caso ele fosse internado, e mais ele ficaria lá abandonado por todos! E então, por amor correu o risco! E ficou leprosa por amor...
E aí, estando os dois com hanseníase foram internados juntos e não se separaram até a morte... Logo após a internação deles a família demoliu a casa!
Está é uma história de amor de tempos modernos, final dos anos sessenta, que não acontece nos dias de hoje, pois se sabe que a Hanseníase já tem cura e que os leprosários não existem mais! Leprosário é coisa do passado, o tratamento se faz em casa junto aos familiares.
O preconceito em relação à Hanseníase é o que mata! A transmissão da doença acontece por contato direto com os bacilos de Hasen que se encontram na saliva, nas secreções nasais ou nas feridas dos infectados. Pode se cumprimentar um hanseniano... Solidariedade também é Amor!
A transmissão da doença acontece por contato direto com os bacilos de Hasen que se encontram na saliva, nas secreções nasais ou nas feridas dos infectados. De modo geral a hanseníase, só se manifesta de três a cinco anos após o seu contágio, uma vez instalada, ela poderá apresentar uma forma benigna, de cura espontânea, ou de uma forma mais grave. Um diagnóstico precoce permite o restabelecimento completo da hanseníase, inclusive com regressão das lesões. Caso tenha alguma suspeita, por menor que seja, é importante que você procure um dermatologista.
E o tratamento é muito simples e é de graça em todos os postos de saúde. A primeira dose do medicamento mata 90% dos bacilos e a doença deixa de ser transmitida. O tratamento não pode ser interrompido e na maioria das vezes dura 6 meses.
O preconceito e a ignorância, não devem fazer parte do nosso vocabulário, já que é um passo atrás na luta para diminuir essa e outras doenças. Pesquisar, ler e transmitir os conhecimentos adquiridos, com certeza ajudarão a acabar com esse estigma. Já o toque físico é fundamental, pois só ele é capaz de trazer conforto e otimismo para quem precisa.

Dedico este conto a
Heleida Nóbrega Metello

Lendo um texto dela voltei a minha infância...

Getúlio Silva
25/09/2007.
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