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Artigos-->Fique com Deus,menino Ives Ota -- 13/11/2002 - 04:08 ( Andre Luis Aquino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Essa é uma história sobre amor, ódio e perdão, é mais uma das histórias que tocam muito fundo no meu coração, não pelo fato de ter sido uma das maiores tragédias que a cidade de São Paulo já testemunhou, infelizmente todos os dias acontecem outras, basta ligar a televisão, mas pelo amor de um pai pelo seu filho e de uma mulher muito, muito corajosa.

A família Ota era só mais uma família feliz da capital, como tantas famílias felizes que existem por aqui, o dia era 29 de agosto de 1997, o endereço era a rua Pedro Pires, no Carrão, bairro de classe média da zona leste de São Paulo, às 19 horas daquela sexta-feira o garoto Ives Yossiaki Ota, de oito anos, fazia lição quando foi violentamente arrancado de sua casa e levado por sequestradores, o que vem em seguida é de cortar o coração...

Na noite da segunda-feira 8 de setembro, a revolta se sobrepôs à tristeza. O comerciante Massataka Ota, pai de Ives, recebeu da polícia uma notícia curta e grossa: o menino estava morto. Foi barbaramente assassinado com dois tiros no rosto, menos de 24 horas depois de ter sido sequestrado, antes mesmo do primeiro contato feito pelos sequestradores, exigindo do comerciante um resgate de R$ 800 mil, que na sexta-feira 5 estava sendo acertado por R$ 80 mil. "Acabaram com meu filho e não pude fazer nada", disse Massataka. Sílvio da Costa Batista, motoboy e informante da polícia, com a desculpa de entregar flores para uma sobrinha de Massataka, foi quem invadiu a casa do comerciante. Ele prendeu no banheiro a empregada e uma sobrinha de Massataka, de nove anos, e levou o menino Ives. Batista, casado e pai de Hillary de Cássia, uma menina seis anos mais nova que Ives, usou a própria casa como cativeiro e enterrou o garoto embaixo do berço onde dormia sua filha.

Não consigo contar essa história sem chorar, sem me revoltar com tamanha crueldade, como as pessoas conseguem dar as costas à vida,mesmo aquelas que tem um filho para criar, quem souber a resposta me explique por favor.

Enxugando as lágrimas e continuando a história, afinal a vida tem sempre que continuar:

Batista foi preso quando fazia contato com os Ota para receber o resgate. Na polícia ele fez uma revelação que aumentou ainda mais a revolta da família. Além dele, participaram do sequestro e do assassinato do garoto dois policiais militares: Paulo de Tarso Dantas e Sérgio Eduardo Pereira de Souza. Nas horas de folga, os dois eram contratados por Massataka para fazer a segurança de uma das suas 12 lojas. Horas antes do sequestro, Dantas foi até a casa do comerciante para justificar as recentes ausências no serviço. "Depois que levaram o garoto, procurei o soldado Dantas pedindo ajuda. Meu erro foi ter confiado nesses caras", lamenta Massataka. "Acredito que a justiça será feita, sem que eu tenha que sujar minhas mãos." Na madrugada de uma quinta-feira ,quando chegou à carceragem do Depatri (Departamento de Investigações sobre Crimes Patrimoniais), o alcagueta(informante da policia) foi espancado e estuprado pelos outros presos. Os PMs foram julgados pela Justiça Comum, mas gozam de privilégios. Estão presos no Presídio Romão Gomes, exclusivo da corporação, onde não há superlotação e nem reina a ética das cadeias, onde estupradores e assassinos de crianças não têm perdão.

Massataka Ota é um herói, todas as vezes que eu o vi pela televisão me emocionei muito, ele sempre será um exemplo para mim de Luta e de força, de pai, jamais me esquecerei dos olhos daquele homem, um pai chorando pela morte do seu filho, talvez não haja dor maior nessa vida.

Ele transformou o pequeno Ives no símbolo de uma campanha pela paz, num dos gestos mais bonitos que conheci na vida...

Para se ter noção da grandeza desse homem ele é nascido na província japonesa de Okinawa, dirige uma fundação que se dedica a ajudar, além de crianças carentes, criminosos condenados. Pelo menos duas vezes por mês, ele visita o presídio militar Romão Gomes levando sementes e implementos agrícolas. Dois dos assassinos de Ives, os ex-PMs, estão presos lá. Ota já pensou em matá-los, mas hoje diz tê-los perdoado.

Para tentar diminuir o sofrimento, a família cumpriu um rito tradicional na cidade de Okinawa, no Japão. Na sala de sua casa, o comerciante montou um santuário com várias oferendas que permaneceu armado até que se completaram 49 dias da morte do garoto. "Passado esse tempo, vamos sentir muito a ausência dele’: disse a mãe, Yolanda Keiko Miagui.

Disse também que "Desde que nasceu, ele dormia em nossa cama." No santuário, a família colocava arroz, sopa, ovo frito, água, guaraná e chicletes diariamente. "São as coisas que ele mais gostava. E, se alimentando, seu espírito se fortalecerá para permanecer ao lado dos ancestrais", explica Yolanda. Ao lado dos alimentos, estão as roupas e os brinquedos que Ives mais admirava. Terminados os 49 dias, cada uma dessas peças foi entregue a membros da família. "Acreditamos que meu filho sabia que iria morrer", diz Massataka. "Cinco dias antes do sequestro, na festa de aniversário de um primo, ele estava caladão e isolado. O que não era comum." Um outro indício que leva a família a crer que o garoto previa a tragédia foi um bilhete encontrado na terça-feira . Em um pedaço de papel de carta, Ives desenhou flores e escreveu para sua mãe: "Mamãe querida. Eu te adoro e te amo porque você criou eu todos esses dias esses anos e por muito carinho."

No ano de 1997 o pai herói Ota deu esse depoimento:

Me sinto culpado pela morte de meu filho. Meu grande erro foi ter confiado e contratado dois PMs como seguranças. Nunca pensei que um dia eles iriam se transformar nos assassinos do garoto. Quando recebi a notícia da tragédia, não tive coragem de entrar no IML para reconhecer o corpo do menino, mas soube que ele estava bonitinho, não estava desfigurado. Não quero nem saber como morreu. Prefiro acreditar que morreu porque deram muito remédio para ele dormir e o coraçãozinho do meu herói, do meu amigo, não resistiu. O que mais me revoltou foi saber que o delegado não pode nem relar a mão nesses assassinos, porque eles pediram proteção à polícia, porque eles vestem farda. Tenho esperança de que serão condenados e de que a justiça será feita. Sei que na cadeia nenhum bandido gosta de criminoso que mata crianças. Não vou precisar sujar as minhas mãos para vingar meu filho. O que eu quero daqui para a frente é que os políticos olhem para nossas crianças, para que elas possam voltar a poder brincar, como eu brinquei na minha infância, sem medos. Não vejo o dinheiro dos impostos ser investido em coisas que poderiam dar segurança para as pessoas. Meu filho não tinha maldade, era uma criança de paz, que nem gostava de briga. Adorava a escola e os amigos. Era carinhoso com os pais e muito simples, diferente dos outros garotos de sua idade. Acho que ele veio ao mundo para deixar uma mensagem de paz. Foi um anjo enviado por Deus para trazer a paz e ensinar para as pessoas que pela dor elas têm que ter fé. Ele vai se tornar um símbolo. Acabaram com a vida dele e com a minha também. Não sei como será daqui para a frente. Não sei nem como vou chegar em casa quando vier do trabalho. Esse menino era meu herói e meu grande amigo. Todos os dias era ele quem me recebia. Abria o portão e me enchia de beijos. Era uma alegria que fazia esquecer qualquer problema. Na hora de dormir o garoto ficava comigo rolando na cama. Tudo era motivo para brincadeira. Acredito até que ele sabia que teria vida curta, mas nada pude fazer para evitar a tragédia. Agora acabaram as brincadeiras. Sei que só poderei conversar com ele no plano espiritual. Só ele mesmo poderá me passar à energia para poder continuar minha vida."

Agora sabe porque o garotinho Yves morreu?

Porque reconheceu um dos homens e disse:

"Você é o guarda do papai".

Um dos sequestradores garantiu que a partir desse momento decidiu eliminar o garoto. Ele foi levado para a residência de Adelino, onde foi drogado por Paulo. O próprio Paulo abriu uma cova no dormitório onde colocou o menino, dando-lhe dois tiros na cabeça. A seguir Paulo entregou outra arma a Adelino, para que também atirasse no garoto e ficasse também envolvido no homicídio. Adelino afirmou que atirou, mas propositalmente errou o alvo.

Avelino foi preso quando telefonava para a família da vítima da qual pretendiam extorquir US$ 800 mil. Adelino diz que desconfia que Paulo também pretendia matá-lo para ficar com todo o dinheiro.

Se você chegou até aqui dificilmente não estará triste ou revoltado com o sr humano, mas agora vem a parte mas bonita desse texto, vem às palavras sinceras de um homem maravilhoso, um pai herói:

Resolvi ajudar o presídio que abriga os assassinos do meu filho por que uma vez tive de ir lá prestar um depoimento. Notei que ali existia uma área muito grande, de uns 3 alqueires e meio, e os presos ficavam só andando para lá e para cá. Pensei que poderia ser bom se eles mexessem com agricultura. O homem parado só pensa em coisas erradas. E, quando mexe com a natureza, ele muda. Eu acredito que a natureza é Deus. Então, fui atrás de doação de sementes, enxadas, e começamos a notar que os presos passaram a ter um pouco mais de alegria.Muitas pessoas podem estranhar isso Mas eu acho que, se você trata bem uma pessoa, ela retribui. E se a gente não recuperar os criminosos, eles vão sair dali mais violentos. Se, de 350 detentos, conseguirmos recuperar dez, são dez pessoas a menos para cometer violências. Eu tenho de me preocupar com o futuro das minhas filhas. O que eu passei, já passei. Não adianta a gente ficar de braços cruzados só jogando pedra no governo. É preciso tentar recuperar o ser humano para que, mais para a frente, não tenha mais violência.

Eu já encontrei os assassinos do meu filho várias vezes, mas eles nunca me olham. Ficam olhando para o chão, eu falo com eles, mas eles não falam comigo.Senti muito ódio. Mas o que adianta você ficar com ódio, colocar uma arma na cintura e ir ao julgamento para matar? Na véspera do julgamento, eu não dormi. Passei a madrugada toda sentado no sofá, com a arma na cintura, esperando o dia clarear. Um pouco antes de ficar claro, pensei: eu nunca atirei, nem sei atirar. O que é que eu estou fazendo com essa arma na cintura? Comecei a rezar. Perguntei a Deus por que Ele havia deixado que isso acontecesse. Aí, pedi para que Ele me ajudasse. Também perguntei a mim mesmo se o Ives gostaria do que eu iria fazer. Pensei na minha mulher, nas minhas filhas. Pensei que eu iria destruir a minha família. Resolvi deixar a arma em casa. Quando eu cheguei ao fórum, eles estavam numa sala, os três juntos. O juiz disse que, se eu quisesse, poderia vê-los pelo olho mágico. Só que, em vez de olhar pelo olho mágico, eu fui lá e abri a porta. Fiquei frente a frente com os três. Eles abaixaram a cabeça. Eu cutuquei um de cada vez e falei: "Olha para mim, olha para o pai do garoto que vocês mataram". Eles não olhavam. Aí, eu disse: "Vocês mataram meu filho, mas eu não vou matar vocês. Vim aqui para perdoar vocês". Eu não tinha planejado falar aquilo, mas saiu. Naquele momento, eu nem sabia por que eu falava aquilo.Só perdoei quando convidado pelo Fantástico fiquei cara a cara com o seqüestrador que não era militar, o único que aceitou se encontrar comigo.

Demorei a reagir a morte de meu filho, foi esquisito porque, quando os policiais me chamaram para dar a notícia, eu estava tão destruído que já nem entendia as coisas direito. Eu me lembro que o delegado me chamou para ir até a Delegacia Anti-Seqüestro. Falou comigo, chegou a me mostrar o silenciador, mas eu estava que nem um zumbi. Não entendi o que ele me disse, acho que não queria acreditar. Tanto que, quando eu voltei da delegacia, minha mulher perguntou o que eles tinham dito e eu disse que eles não tinham nenhuma notícia ainda.

Só caí em mim um pouco mais tarde. Já era de madrugada quando um concunhado meu chegou em casa e disse: "Encontraram o Ives, mas ele já estava morto há muito tempo". Eu saí para fora do apartamento e dei um grito bem grande, alto. Todos os vizinhos acordaram. Eu gritava, gritava. Para mim, era como se o mundo estivesse acabando. Eu sempre acreditei que poderia trazer meu filho são e salvo para casa e agora eu iria trazê-lo dentro de um caixão.

Nos dias que se seguiram eu não pensava em nada. Fiquei feito um doido. À noite, não conseguia dormir. Quando dormia, acordava com pesadelos: o Ives me chamando, pedindo socorro. Aí, eu levantava e vinha a imagem daquelas três pessoas. De dia, era igual. Não conseguia trabalhar, não conseguia comer. Ficava só pensando coisas horríveis: às vezes, eu tinha vontade de ir buscar os filhos deles, para fazer a mesma coisa que fizeram com o meu. Eu estava desesperado.Minha mulher dizia que eu tinha de perdoar. Quando ela falou isso pela primeira vez, pensei que estivesse maluca. Cheguei a ficar preocupado mesmo, achando que a morte do Ives a tivesse enlouquecido. Mas ela foi uma grande mulher, e muito sábia. Foi o sustentáculo da nossa família. Se não fosse ela, eu acho que teria feito uma besteira. Tenho de elogiar muito a minha mulher.

As melhores lembranças de meu filho são...Tenho muitas. Lembro do primeiro passo que ele deu, da primeira palavra que ele falou. Às vezes, olho meus dois sobrinhos jogando bola e me dá uma saudade. Poderiam estar os três juntos... Aí eu saio de perto e fico pensando que o Ives me deixou muitas lembranças boas, me ensinou muita coisa. Eu falo com ele sempre: "Você pode ficar tranqüilo. Seu pai é um homem digno e você pode ter orgulho dele". Depois, eu tive uma grande felicidade. Você sabe que a minha esposa não conseguia engravidar depois que o Ives nasceu? A gente tentava o terceiro filho e não dava certo. Engraçado que, seis meses depois que o Ives morreu, ela engravidou. Então, eu ganhei uma nova filha. Ela vai fazer 3 anos em outubro e é muito bonitinha e inteligente. Eu sou um homem muito feliz.

A todos só posso dizer que perdoar me ajudou. Porque o ódio come a gente. Quando você consegue desculpar sinceramente a pessoa que lhe fez mal, você se sente muito melhor. Perdoar não é só bom para quem é perdoado. É bom para quem perdoa também.

Dos seqüestradores do meu filho só queria que um dia eles me pedissem perdão pelo que fizeram Não sei bem por quê. Mas eu queria. Acho que para poder chegar em casa e dizer para a minha mulher: "Olha, hoje fui lá, conversei com eles, e eles pediram perdão". Acho que ela iria ficar contente



Só estou contando essa história não para falar de dor e nem de medo, isso todos nós já temos consciência que são coisas muito presentes na nossa vida, temos mesmo que tomar muito cuidado, mas só queria mostrar que o ser humano é a maior criação de Deus e muitas vezes esse mesmo Deus se sente triste pelos caminhos que sua criação tomou.Deus sabe todas as coisas, nós não sabemos nada...

A vida é o nosso maior bem, nada será maior do que ela, podemos ganhar milhões, mas se perdemos a vida de nada isso valerá.

Só o amor pode salvar o mundo do desamor, nessa guerra eterna entre o bem e o mal são anjos contra demônios, ódio contra o carinho e agora homens contra homens...

Existe no mundo homens e mulheres que não podem ser chamados de homem ou de mulher, porque perderam o fio de vida que corria em sua alma, são apenas sombras e rascunhos de seres humanos, se deixaram perder pela sordidez e pela ganância humana que é um dos lados da natureza da vida, felizmente para o bem da humanidade existe sempre o outro lado, homens e mulheres que podem sim ser chamados de homem e de mulheres, pois acabe a estes desequilibrar essa balança para o lado do bem.

Agradeço a esse homem, a esse pai e essa mulher, essa mãe, por toda essa lição de vida, minhas lágrimas também rolam de saudades de um menino que nunca conheci,mas um dia eu também serei pai...que Deus nos proteja. .

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