Atrás das vidraças,
foi que vi teus olhos negros.
Negros como as asas da graúna.
Atrás das vidraças foi que vi
teus cabelos negros.
como a noite sem luar.
Atrás das vidraças
foi que vi tua boca doce, tão doce
que pensei em te beijar.
Atrás das vidraças,
foi que vi tudo isso.
Por trás das vidraças
foi que comecei a te amar.
Sem conhecer-te,
sem saber quem eras, no entanto
já te amava, já contigo sonhava.
Sonhava sonhos de amor,
em que so nós aparecíamos,
juntinhos como pássaros no inverno.
Carinhosos como em lua de mel,
felizes, felizes como os anjos no céu.
E nestes sonhos que eram so nossos
eu te beijava amor.
Te dizia palavras belas,
murmurava-te belas canções.
E tu?
Tu me olhavas como que extasiado...
Por quê?
Talvez pela grandeza do nosso amor?
Talvez...
Talvez pela pureza de meus olhos?
Quem sabe...
Talvez pela candura de meus lábios?
Sim, porque não?
Talvez por tudo isso ou mais.
Porque não era so eu que te amava
tu também me amavas e não menos que eu.
Nestes sonhos
era como se estivéssemos no paraíso.
Mas era tão curto...
Logo amanhecia...
A lua no céu já não se via.
Já se tinha posto.
E com ela o meu sonho,
o meu sonho de amor,
o meu sonho impossível.
Pois na realidade tu não me amas.
Ou melhor, nem sabes que existo.
Talvez algum dia venhas a saber.
E eu que tanto te amo,
por ti não irei mais sofrer.
E por detrás das vidraças,
morre um amor, que na realidade
nem nasceu.
Que viveu nos sonhos
e que nos sonhos morreu. |