Calvário
Eu, fraca e opaca, assustada.
Numa existência nada recatada.
Desonesta comigo e contigo.
À sombra de uma vida por todos
devassada.
Julguei-me através das lentes de
poeta, vi-me em espelhos de cristal.
A magia do mineral escondia a feia
criatura que ali se refletia.
E tão iludida ia, que não via e cria
que a beleza que o espelho refletia,
era eu, e não a magia que o cristal
refletia.
Eu, feia, deformada, pela vida reprovada.
Hábil, prática, mesquinha, vil.
O calvário e a cruz são reflexo do lugar
onde me pus.
Lita Moniz
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