Moinho
Escrevo, em pântanos atolada,
escrevo!...
Gravo com meu sangue nas
cascas das árvores o meu sofrimento.
O desencanto de cada momento, tormento!.
Como Descartes, tento decompor o todo em
partes, desafiar o destino, compor outro hino.
Fugir do moinho que me tritura, me faz em pedaços.
O corpo se recusa a entrar ali, parece
adivinhar que há outro lugar só para si.
O mental se esforça para parar as duas
pedras do cruel moinho que me quer tragar.
O emocional, enfurecido, aperta o gatilho, incendeia o lugar, quer destruir o moinho,
que só vai parar quando me esmagar.
Os versos cantam terror, amargor.
Onde está a beleza?
Só ouço ais e gritos aflitos.
É só tristeza a me rodear.
E o cruel moinho que me quer matar.
Lita Moniz
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