PÁTRIA MÃE OU MADRASTA
Por Ésquilo Dacappo
Oh, Pátria amada, Pátria que sempre amei.
Já fiz tanto por ti e de ti nada ganhei.
Te dizem mãe gentil, porque não o és comigo?
O que lhe fiz para merecer este castigo?
Oh, Pátria amada salve, salve
as crianças morrendo de fome,
da desnutrição que as consome.
Oh, Pátria amada, idolatrada,
porque dás tanto a uns e deixas outros sem nada,
morrendo de fome, jogado na calçada?
Se o lábaro estrelado que ostentas
simbolizasse o amor de maior porte
não erguerias rude a clava forte
contra o peito do filho que amamentas.
Não voltarias as costas em desprezo
ao clamor dos brados suplicantes
às margens hostis e intrafegáveis
do mar de lamas onde seus infantes
naufragam sob atos vis e infames.
Oh, Pátria, paria me faria,
sendo pura hipocrisia sonegar-te o temor
de sucumbir ao projétil mal direcionado
Ou de me ocultar, cheio de pavor
ao me ver diante do clamor
daqueles que profanam o vosso erário.
Seria, justamente o contrário
se me retribuísses este amor!
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