No inverno daquele ano, pegamos a mania de escrever pedaços um do outro.
Incompletos mas talvez, cheios de significados.
Muitas vezes reparei que você pegava os meus pedaços e tentava decifrá-los.
Aos poucos.
Queria formar uma história que poderia, ou não, ser completa.
Durante aquele inverno concordamos que nem sempre é possível saber todas as coisas porém, é sempre intrigante juntar os pedaços e imaginar o todo.
Aos poucos fomos conhecendo os pedaços um do outro.
Nos divertimos ao embaralhá-los e, em seguida, achar novos lugares para colocá-los.
Impossível encontrar o lugar certo!
Descobrimos que não existem pedaços imutáveis mas, descobrimos também, que o importante é poder sempre embaralhá-los e nos deliciar com os desenhos que formam.
Algumas vezes, sem que você percebesse, olhei a maneira como você, compenetrado, distribuía os meus pedaços.
Lindas tentativas de me decifrar.
Lindos desenhos que eu gostaria de ser.
Lindos moldes que copiei para neles me aninhar em determinados momentos.
De minha parte, preferi sentir cada pedaço seu.
Sozinho.
Coloquei lado a lado os que transmitiam o mesmo sentimento e a mesma temperatura. Formei desenhos cheios de calor, formei desenhos cheios de cores.
E me aninhei sobre cada um deles, deslizando meu corpo pelos contornos macios.
Sentindo você.
Hoje, que não nos vemos mais, penso que não tentamos o mais importante.
Deveríamos ter juntado meus pedaços aos seus, seus pedaços aos meus, e tê-los embaralhado como uma só coisa.
Em seguida, a quatro mãos, formaríamos um desenho repleto de formas e cores, mesclando o ponto de união de um pedaço com o outro, formando um grande painel que poderia ter alegrado, até hoje, a parede de nossas vidas.
Tita Ancona Lopez
21 de outubro de 2004.
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