Lembro-me do quanto era quente.
Nada aliviava aquele calor.
Nem os banhos de rio ou de piscina, nem a bebida gelada,
nem a sombra das árvores frondosas.
Além disso havia um desassossego na alma,
que tomava conta de todos os momentos.
Quando chegava a noite, o vazio se apossava.
A solidão na casa grande, durante o acompanhar
do sono das crianças.
O barulho de silêncio.
A falta de música.
A certeza do fracasso que,
em forma de flecha teimava em enterrar-se,
ferindo, sangrando, cada vez mais fundo.
Houve um tempo em que pensei nunca conseguir ir embora.
Pensei que lá definharia, pouco a pouco, me consumindo naquele calor.
Foi preciso muito esforço.
O mais estranho é que hoje o esforço é o de me lembrar do acontecido
e escrever sobre esse assunto.
Porém a flecha, talvez esteja lá dentro até hoje.
Porque de vez em quando teima em cutucar
e me fazer realizar que o desamor,
o desafeto e o desmoronar dos sonhos
foram possíveis um dia.
E o pensar que, se foram possíveis poderiam repetir-se,
faz com que eu abra o peito, arranque a flecha a todo o custo,
nem que rasgue, nem que doa, nem que mate.
Com ela aqui, não fico mais.
Tita Ancona Lopez
25/10/06
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