Ele chegava de carro e buzinava em frente de casa.
_Menina! Onde já se viu homem buzinar e você sair? Tem que descer do carro, tem que tocar a campainha, tem que abrir a porta para você.
_ Ah mãe! Tem dó! Ele buzina, eu vou!
_Mas eu nem sei o sobrenome dele.
_Eu sei mãe, não se preocupa!
E lá ia eu correndo para a buzina enquanto ouvia minha mãe reclamando e reclamando.
Mustang amarelo, saía cantando pneu. Risadas, jantar e depois dançar muito, até o dia clarear.
Uma vez no Guarujá, entramos no mar de roupa e tudo.O carro parado na beira da praia, o toca-fitas com o som no máximo e nós dois no mar, beijando e rindo. O dia amanhecendo. Inesquecível.
E lá ia o Mustang amarelo subindo a serra, passeando no domingo à tarde, parando na lanchonete, buscando no trabalho e na escola e indo dançar.
Não sei como no dia seguinte eu agüentava acordar cedo. Mas acordava.
Sempre fui essa mistura de responsabilidade-irresponsável que fazia tudo dar certo no final.
_Como pode dançar até de manhã? Como agüenta? Você vai ficar doente.
_Não vou mãe. Não se preocupa.
Nunca fiquei doente. E nem me lembro porque foi ou quando foi que o Mustang amarelo deixou de me chamar na porta de casa.
Talvez tenha sido quando o Alfa Romeo azul marinho começou a buzinar...