No fim do dia olhei para o horizonte. Lá vinha ele, ao longe, bem longe.
Mas sem dúvida que era ele.
Inconfundível seu jeito de andar e o esvoaçar dos cabelos a cada batida de seus pés no chão.
Que bom, ele estava chegando!
Arrumei as almofadas, retirei o jornal do chão da sala, fui ao espelho passar batom.
Olhei.
Para mim.
Pânico!
Será que eu queria mesmo que ele chegasse?
Tantos dias passados comigo mesma, sem nenhum compromisso, ninguém com vontades além da minha...
Acordar, comer, dormir, na hora que quisesse.
Ainda, a alegre presença dos filhos esparramados comigo no sofá.
Lembranças das infâncias, cafunés nos cabelos, comidinhas na mesa da cozinha.
Intimidade sem nenhum peso.
Apaguei as luzes, tranquei as portas, fechei as janelas, desliguei o som.
O telefone tocou, não atendi.
Afinal, não estou em casa.
Tive um contratempo, de ultima hora.
Aconteceu quando me olhei no espelho.
Tita
21 de outubro, 2005.
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