Arrumo o armário.
Esta roupa não quero mais,
Esta uso pouco (coloco para trás).
Da gaveta das meias, vou tirar aquela furada.
Que pena, tão gostosa no inverno...
Melhor não guardar mais, se guardo acabo usando.
Quero começar o ano com tudo arrumado.
Esta calça não serve, ficou apertada.
Eu vou emagrecer, sem duvida alguma.
Vou guardar. Gostava tanto quando usava...
Quantas bolsas! Porque preciso de 4 bolsas pretas?
Esta foi minha irmã que deu,
esta uma amiga trouxe da Argentina
e esta....esta me lembra uma noite
que parece estar longe mas está sempre perto.
Lembro-me de você chegando com aquela caixa grande e
seu sorriso enorme.
O abraço apertado ao me dar o presente,
a minha curiosidade e alegria ao abrir.
A bolsa preta. Esta bolsa preta, que hoje faz parte de um armário sem ordem.
Nada tem lugar completamente certo,
nada fica perfeitamente reto, é tudo um pouco torto.
Sinto tristeza, embarco na nostalgia.
Lembro-me de que guardei a caixa grande.
Pego lá no alto, na ultima prateleira do armário.
Dentro a rolha do champanhe, o cartão que veio com as flores,
um guardanapo com um pouco de batom e uma frase bonita,
o cinzeiro daquele hotel na montanha, o cachecol de lã, o invólucro do bronzeador, a fita que amarrava a caixa do presente, suas cartas, tão lindas... e o retrato:
nós dois, juntos.
Não quero mais arrumar o armário.
Desanimei, cansei. Arrumar pra que?
Coloco a nossa musica, olho o retrato
e embarco de volta ao nosso tempo.
Quando cada caminho desembocava em lugar certo,
quando cada pensamento culminava em realidade,
quando nada no mundo era desarrumado.
Tita
20/12/2006
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