Ela gostava de regar o jardim no final da tarde, minha avó. O ar ficava com aquele cheiro de planta regada, que só antigamente se cheirava.
Durante o dia costurava, fazia tricô, um para cada neto, um para cada bisneto e quando pensava que ia acabar a fila, sempre nascia mais um.
Tinha a maior paciência e jeito para ensinar. Com ela aprendi a tricotar e a costurar.
Quando eu ficava doente, sentava-se em uma poltrona no meu quarto e de lá não saía enquanto eu não melhorasse. Eu dormia, acordava, dormia de novo e lá estava ela, sorrindo para mim por sobre os óculos, as agulhas de tricô sempre debaixo do braço.
Gostava também de cozinhar. E como gostava de fritar bolinhos! Bolinho de legumes, bolinho de arroz, bolinho de queijo, bolinho de bolinho, sem nada dentro. Uma delicia os bolinhos, os risotos, as carnes temperadas.
Com ela aprendi a cozinhar e foi dela que escutei pela primeira vez o nome dos temperos.
Hoje tenho saudade de sua presença velando meu mal estar e da sua presença tricotando, sorrindo, ou saindo da cozinha cheirando a alecrim.
Tita Ancona Lopez
28/03/2007
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