Não há o que dizer.
Melhor virar as costas vagarosamente, ir para casa e enfiar-se debaixo do cobertor. Não tirar nem o olho para fora. Ficar lá o tempo necessário para se recuperar.
Nossa, como é difícil! Fora o coração que dispara, a vontade de chorar, ou de xingar...
Tudo depende do dia e do estado de ânimo. Ou é o choro ou é a fúria. Não existe meio termo.
De qualquer maneira o melhor é não reagir.
Agüentar a dor de estômago de tanta raiva, o choro convulsivo e solitário, os olhos vermelhos, a vontade de vomitar. O melhor é vomitar mesmo, uma, duas, três vezes. Depois correr de volta para a proteção do cobertor, livre das podridões do estomago.
As da alma são mais difíceis de descartar.
As do coração não se descartam, mas podem ser enviadas para o compartimento dos contratos encerrados (consegue-se isso com o passar do tempo) e, só muito raramente e depois de muito tempo, permitir-se uma revisão nos arquivos.
Então, um dia, depois da reclusão solitária, percebe-se que já dá para sair do esconderijo.
Melhor ir aos poucos. Nada de enfrentar logo de cara todos os desafios. Melhor começar devagar, uma coisa de cada vez, olhando de soslaio antes de encarar de frente.
A cura vem, um pouco de cada vez, como uma convalescença, até que fica tudo ótimo e parece que nada aconteceu.
Tira-se o cobertor da cama, o verão chega e, com ele o sol, a praia, e o mar que teima em trazer e levar embora, mas nunca deixa de trazer de novo.
Tita Ancona Lopez
02/02/2007
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