Sento-me à sua frente.
Você sorri, eu sorrio.
E nos olhamos bem no fundo dos olhos.
Neste momento, na distância que há entre o seu olhar e o meu,
vejo um tremor, como se o ar fosse visível.
Jamais saberei se o tremor foi criado pela força dos nossos olhares,
ou se fugiu de dentro de mim.
Atordoada, a partir daí enxergo apenas o tremor e não seus olhos.
As imagens, cheiros e sons que preenchem o espaço entre os dois olhares,
ficam mais nítidos.
Formas e acontecimentos passam como um filme.
Ali está você me sorrindo no primeiro dia em que nos encontramos.
Vejo sua mão segurando meu rosto.
Neste espaço escuto a sua voz, meu riso e minhas palavras.
Nossas bocas falando baixinho, cada vez mais perto.
Você sussurrando – você, que não sussurrava.
Então, o atordoamento se vai.
O ar não faz mais formas e expõe seus olhos que, fixos em mim,
não entendem o que se passa.
Não entenderão.
Seus olhos não viram o tremor que preenche o espaço entre nossos olhares.
E não sabem que espaços de ar podem abrigar momentos e revelar verdades.
Tita
Revisitado em 17/05/07
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