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Poesias-->OLHAR -- 14/04/2008 - 20:46 (Cristina Ancona Lopez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Na volta, encontrei cacos de vidro espalhados pelo chão. Não sei o que poderia ter ocorrido. Quando eu saíra, a casa estava vazia, janelas fechadas, portas trancadas.

A única pessoa que tinha a chave era ela. Teria voltado?

Chamei. Não houve resposta. Talvez o gato...

Decidi juntar os cacos, com cuidado para não cortar as mãos.

Há tempos não a via. Talvez até já tivesse se esquecido de todos os momentos pelos quais havíamos passado.

Os pensamentos me trouxeram lembranças e cheguei a sorrir enquanto limpava o chão. Será que ela havia estado ali?

Talvez seu cabelo tivesse crescido. Estaria ainda tão magra?

Lembro-me dela sentada na cadeira, bem ali ao lado. Gostava de contar tudo o que lhe acontecera durante o dia e ria, sempre alegre, procurando ver o lado bom das coisas. Desde que se fora a casa nunca mais estivera cheia de sol.

Lembro-me de como me olhava, enxergando meu íntimo, meus pensamentos ocultos, minha vida interior. Via tudo e dela nada podia ser escondido.

O que descobriria se me visse catando os cacos?

Fiquei feliz pelo fato de não estar ali. Não queria que soubesse o que sua lembrança causava em mim.

Um tremor me percorria. Um calor tomava conta e meu corpo criava asas. Que ansiedade ao pensá-la, que sofrimento ao lembrá-la e querê-la tanto. Melhor que não me visse tão triste, tão entregue.

Chão limpo. Sentei-me na cadeira, segurando os cacos de vidro. Lágrimas escorrendo. Foi quando levantei os olhos e me deparei com aquele olhar, fixo em mim.

Apertei com força os cacos de vidro na palma da mão.



Tita



15/02/2007

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