Não é preciso trancar a porta. Não sai por vontade própria embora sofra terrivelmente por permanecer.
Com a chave na mão, não se decide.
Duvidas profundas quanto a seus próprios sentimentos e quanto à coragem de encarar uma vida sem os laços que o acompanham há tanto tempo.
Dicotomia de pensamentos. Sai ou não?
Por enquanto fica ali.
Vez por outra arrisca um contato rápido com o mundo sem fronteiras. Chega a acreditar que não voltará à cela. Cheio de novas idéias e energia, inicia novos projetos, escreve novos textos, arrisca itinerários, telefona números nunca discados, canta e dança em pensamento.
Ao anoitecer, sente-se perdido. Em vão procura a serenidade, andando em círculos e por fim, qual detento em prisão semi-aberta, retorna encostando a porta da cela atrás de si.
Procurando não perder as esperanças fala consigo mesmo - um dia saio por aquela porta, abraço uma vida nova e não volto mais – enquanto uma voz interior persistente e longínqua sussurra: será?