Quando ficava nervoso falava alto, os olhos soltavam faíscas e batia com o punho fechado na mesa. Olhava firme nos olhos e buscava a culpa de quem fosse, em quaisquer olhos que encontrasse.
Eu tremia, mesmo sabendo que a culpa não era minha.
Um dia consegui me distanciar e, mesmo sendo atacada, não deixei que os ataques me fragilizassem. Consegui me retirar da cena e assisti-la e vi um homem, vermelho de raiva, corpo grande, posição de ataque, querendo fazer valer a qualquer custo seu poder.
Um homem mimado. Isso que era. Acostumado a ter tudo a tempo e à hora.
Porque não adivinhavam todos o seu pensamento? Porque não entendiam sem que explicações fossem dadas?
Um homem descontrolado, solitário e digno de pena.
Deste dia em diante a cada ataque que assistia, dirigido ou não a mim, eu buscava os detalhes: das palavras isoladamente, das mãos, dos olhos, da posição do corpo, do enrijecer dos músculos....
A cada som mais alto, mais interessante se tornava o trejeito da boca. A cada respiração entrecortada, mais tremia o enorme corpo. A cada movimento das mãos mais interessada eu ficava.
Estes detalhes tomavam tanto a minha atenção e eram tão intrigantes que passei a receber com prazer aqueles ataques. Tornei-me espectadora assídua, vinha de onde estivesse para vê-los.
Lembro-me até hoje de todos os trejeitos e da cena chocante mas, das palavras, esqueci-me completamente.
Não tinham a menor importância.
Tita
21/02/08
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