Minha cabeça voa longe, há tanto a fazer e tão pouco tempo, a mesa cheia de coisas, a organizar, aonde está aquela eu que nunca se perdia?
Leio sem prestar atenção, escrevo sem verificar os erros, cozinho extrapolando nos temperos.
Vou e quando chego não me lembro a que fui, volto e não sei porque voltei.
Retorço fatos, invento histórias, vivo vida ilusória, choro e rio por qualquer coisa. Penso que tenho fome mas esqueço-me de comer, tenho sede e com o copo na mão, bebo só um pequeno gole.
Estranha sensação me toma o ventre, num repente...
Não me lembro aonde coloquei as chaves e o que tenho que fazer ainda hoje, muito menos amanhã.
Escrevo palavras sem nexo, constato uma mancha nova em uma das mãos, fico horas no banho, compro qualquer coisa nova, pelo prazer de comprar.
Sorrio para pessoas na rua, aceno do carro, cumprimento no elevador, converso com os vizinhos. Telefono e não me lembro o que queria dizer.
Toma-me, vez em quando, uma certa mudez...
Num repente retomo todas as rédeas, procuro colocar ordem nas coisas e nos pensamentos mas a ordem me contorce e me aflige e então jogo as rédeas, melhor sem, deixo que se percam pelo chão, quem precisa de rédeas? Essa bobagem da voz da razão que quer avisar alguma coisa que não quero escutar.
Mesmo porque de que servem as razões sem as certezas?
Troco de roupa correndo, encontro os amigos, não acho parada, volto para casa e não encontro o que ler. Olho-me no espelho e constato: meus olhos brilham e aparento (não sei como) um certo sossego, enquanto sábado não vem.
Cristina
11/06/08
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