E assim, com o coração disparado, atirava-se à atividade,
em uma sucessão interminável de ações.
No fim do dia cochilava, não sem um certo temor da falta de responsabilidade por descansar.
Somente à noite conseguia o descanso merecido.
Porém, quando na madrugada a premência da manhã se aproximava,
o sono se recheava da lista mental de afazeres.
Um dia ficou doente e não fez o que deveria ter feito.
A doença se estendeu por dias, semanas, mais de um mês.
Quando voltou aos afazeres costumeiros percebeu que sua falta em nada modificara os acontecimentos.
Deprimiu-se ante a constatação da inutilidade de sua aflição,
sofrimento que a nada levava.
Desanimado, não encontrava mais o animo a que se acostumara.
O dia a dia perdeu o sentido. Constatava a cada ação, a inutilidade do que havia acabado de fazer.
Quando decidia ficar na cama o dia inteiro era chamado de irresponsável. Quando trabalhava de nada valia.
Quase enlouqueceu.
Até que passou a olhar para o céu e notou as estrelas; para o chão e notou as flores; para a água e notou as marés; para a frente e viu as montanhas; caminhou e sentiu o sol; apurou os ouvidos e escutou a musica de todas as coisas.
Cantou. Sorriu e achou graça no que o rodeava.
Riu.
E riu mais e mais. Porque desde então a inutilidade se foi e apenas o presente passou a fazer sentido.