Um dia notou que no canto da sala havia uma mancha. No chão. Nunca havia notado.
Estranho...Será que sempre estivera ali? Como teria surgido?
Aproximou-se. Era uma mancha estranha, Não se parecia com nada além de uma ameba, disforme. O que a teria causado?
Lembrou-se de quando ele morara junto com ela naquele apartamento. Será que ele teria provocado a mancha? Se sim, porque não havia lhe dito nada?
Resolveu telefonar e perguntar: você se lembra de uma mancha no canto da sala, perto da janela, do lado esquerdo da mesinha de canto? Ele não se lembrava. Aproveitou para perguntar como estava, e a vida? Ele disse que ia tudo bem.
Desligou. E ela, como estava? E a vida?
Parecia que estava tudo bem, pensou...não fosse aquela mancha tão sem sentido...
Uma ameba disforme e amarelada. Pensou que algumas vezes acontecem coisas estranhas. Seria aquela mancha alguma coisa estranha?
Sentou-se para ver televisão. Era como se a “coisa” não tirasse os olhos dela e chamasse seu olhar a todo momento. Foi até a copa tomar um lanche, mas não conseguia parar de pensar naquilo. Resolveu ir se deitar mas antes passou pela sala e mais uma vez olhou para ela. Que estranha aquela ameba!
No meio da noite acordou sobressaltada. Será que a mancha ainda estava lá ou teria desaparecido? Foi até a sala. Lá estava.
No dia seguinte, enquanto trabalhava lembrou-se, ligou para casa. A faxineira atendeu. Ainda está lá? Sim a mancha ainda estava lá e ela havia procurado tirá-la de todas as maneiras possíveis, sem sucesso.
Comprou um carpete e forrou o chão da sala mas, cada vez que entrava na sala, tinha a curiosidade de saber se teria desaparecido. Um dia descolou o carpete no canto, só para ver: a mancha ainda estava lá.
Estava lá no fim de semana, durante a semana, de dia, de noite, a todo o momento. Não desapareceria, ela tinha certeza.
Entrou em desespero.
Colocou o apartamento à venda. Que pena ter que mudar-se mas não suportava conviver com aquela mancha que surgira do nada.
Vendeu o apartamento e mudou-se.
Enfim paz. Ficara livre do tormento.
No meio da noite acordou. Virou, revirou, leu, andou pela nova casa...mas era impossível. Não conseguia, não conseguiria voltar a dormir.