Desligou o telefone nervosa. Vestiu-se correndo, bateu a porta, até esqueceu de trancar.
Tinha que correr. Ele não estava bem.
A voz estava péssima e ela acreditava, sim acreditava, que ele deveria estar mesmo perto do fim. Soava tão debilitado, tão acabado, tão sozinho...
Correu.
Trânsito, sinais fechados ficou aflita, quase desesperada. Não podia deixá-lo só. Tinha que correr, alguma coisa muito séria estava acontecendo.
Quando chegou ao prédio, do outro lado da cidade, o elevador demorando, subiu as escadas de dois em dois degraus. Será que ele conseguira manter-se respirando enquanto ela vinha?
Abriu a porta suada e esbaforida, chamou por ele. Sem resposta. Nada na sala, nada no quarto. Encontrou-o no banheiro sentado no chão, desconsolado.
Não consegui voltar para a cama, eu estou acabado, eu estou no fim.
Levantou-o com dificuldade, levou para o quarto, ele jogando todo o peso nos seus ombros, fez com que se vestisse, chamou o elevador, voaram para o hospital.
Durante o caminho ele foi de olhos fechados e gemia. Ela pediu por favor, agüenta, por favor! Vamos chegar logo, você tem que agüentar.
Na porta do pronto socorro gritou, pediu ajuda, veio uma maca, carregaram-no com urgência para dentro. Largou o carro com a chave no contato, correu segurando a mão dele ao lado da maca.
O médico veio, examinou.
Ela com o coração disparado mas doutor, por favor, ele vai ficar bom?
O médico não respondeu. Levante o braço, abra a boca, vire de lado, vire de frente, deite-se novamente.
Ela, tremendo.
O médico terminou o exame e a chamou para conversar.
Ela, começou a chorar doutor, doutor, o que é que ele tem?
O médico respondeu: gripe. Mais dois dias e vai estar bom. O cara é medroso hem?
Então ela, envergonhada e secando as lágrimas, despediu-se do médico, agradeceu e já com um quase acesso de fúria lembrou-se de quantas vezes passara por isso. Ele desesperado, ele dizendo que morria, ele esperando o fim. E ela, sempre correndo.
Voltou para o lado da maca. Ele lívido. Você tem gripe. GRIPE! Escutou que é gripe?
Como por encanto, ele recuperou a cor. Que bom, não estava morrendo! Que bom, ela o salvara! Que bom! Até que não estava mesmo tão mal assim. Sorriu, quis abraçá-la mas ela o afastou.
O que foi? Não está contente?
Ela olhou desconsolada. Pensou em ir embora. Mas sabia que se ele telefonasse de novo ela, de novo, correria. Então pegou na mão dele e disse: vem, eu vou te levar para casa.
Tita
08/02/2007
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