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Poesias-->OS PÉS -- 14/04/2008 - 20:48 (Cristina Ancona Lopez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Que canseira!

Há quanto tempo estaria caminhando? Não poderia precisar.

Talvez devesse ter marcado os dias a cada vez que anoitecesse. Não tinha tomado esta providência e perdera a conta. Será que já teria se passado um mês? Dois? Um ano? Quantas horas teria caminhado?

Tirou os sapatos e as meias. Os pés estavam vermelhos. Estranhou. De quem seriam aqueles pés? Sem duvida não eram seus. Será que os havia apanhado no meio do caminho?

Estranhos aqueles pés, pois que nunca tivera os dedos tão tortos. E o dedão assim virado para o lado esquerdo, não era bizarro? Tão mais curto do que o segundo dedo...

Onde teria deixado os seus pés e pego estes?

Tentou recordar mas há muito deixara de prestar atenção. Passara a viver um dia após o outro e não se lembrava do dia anterior. No começo procurara esquecer, com muito empenho, o que já se passara e, com o passar do tempo, alcançara o estado de não se lembrar de nada do que já fora.

Porém, estava estranhando demais aqueles pés. Não importava como tinham ido parar ali, este não era o problema. O problema era que queria seus pés de volta e não sabia como encontrá-los.

Olhava desconsolada para os pés que não eram seus. Estes estavam sujos, eram feios e doíam; eram enormes e tortos; as unhas estavam mal cortadas. Pensou que nunca havia imaginado ser possível trocar de pés. Mas ali estava ante a constatação dos fatos: andava com pés que não eram os seus.

Como não havia percebido antes? Há quanto tempo e como, pudera abandonar assim uma parte de seu corpo e aceitar outra que nunca fora sua?

Procurou não entrar em desespero pois sabia que logo teria que retomar a caminhada. Havia pouco tempo.

Talvez devesse dar meia volta e voltar até encontrar o que era seu. Porém, desta forma, quando chegaria ao seu objetivo?

Comeu, bebeu, descansou e então, pensando mais claramente decidiu ir em frente assim mesmo. Fosse como fosse havia adquirido aqueles pés e eles a levariam aonde queria chegar. Talvez até os seus próprios haviam-se estragado e, de alguma maneira, tinha conseguido esses...

Sabe-se lá quantas coisas estranhas ainda aconteceriam com seu corpo ao longo do caminho?

Não olharia mais para os pés e pronto.

Agradeceu intimamente a o que quer que fosse que havia lhe proporcionado a possibilidade de ter pés para caminhar, não importa que formato tivessem.

E seguiu em frente.

Sem olhar para os pés e sem olhar para trás.



Tita Ancona Lopez

São Paulo, 29/01/2007



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