Tinha certeza de que estava ali. Mas não o encontrava. Como pode uma coisa desaparecer assim, apenas com um rápido desvio do olhar?
Olhou embaixo da mesa. Não estava ali. Pensou que o melhor seria esquecer-se do papel por algum tempo. Recostou-se na cadeira e olhou novamente sobre a mesa. O papel estava lá.
Impossível.
Tinha certeza de que não estava ali há alguns minutos atrás.
Ultimamente vinham se repetindo acontecimentos como este.
Estava bastante apreensivo quanto a isto.
Há duas semanas, quando saíra do banho, a toalha não estava sobre a pia e ele nunca deixava de colocar a toalha sobre a pia ao entrar no banho. Saira do banho e fora, molhado, procurar a toalha no quarto. Nada. Voltara ao banheiro e lá estava a toalha sobre a pia.
Algo muito estranho estava acontecendo. Se contasse a alguém, poderiam concluir que algo terrível sucedia a ele. Tinha que descobrir sozinho o que se passava pois tinha a certeza de que não era com ele que havia algo errado.
Passou a prestar atenção a tudo. Cada mínimo movimento seu ou ao seu redor.
O inesperado continuava acontecendo. Novamente objetos que mudavam de lugar.
Resolveu então anotar. Comprou um bloco e anotava tudo o que fazia e o lugar em que colocara cada objeto.
Naquele fim de tarde, ao sair do banho, notou que a toalha, novamente, não estava em cima da pia.
Pegou seu bloquinho e leu: “coloquei a toalha sobre o bidê”.
Assustou-se.
Era ele!
Era ele que não se lembrava o que tinha feito minutos antes!
Era ele!
Aterrorizado correu, sem roupas pela casa deserta: quero minha sanidade de volta, quero minha sanidade de volta. Controlou-se, parou, respirou fundo.
Calmamente voltou ao banheiro e procurou a toalha sobre o bidê. Não estava lá.
Foi ao armário, pegou uma toalha limpa e voltou ao banheiro. Amarrou-se, a ele e à toalha, no pé do bidê. E dali não mais saiu.