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Contos-->Homens diferentes -- 29/08/2007 - 20:47 (paulino vergetti neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Homens Diferentes.



Atravessei o longo corredor entre tantos blocos de edifícios; trazia comigo o mistério revelado e nada estava errado. Passei na residência de Abdulah e ele, já na porta, me esperava sorridente porque sabia que nossa missão era, além de nobre, santa.
Éramos seis. No local e hora marcados, chegamos com exatidão. Para não causar qualquer espanto às autoridades, nos separamos, mas sempre próximos um do outro e do local.
Lembrei-me do filme que havia participado junto aos meus pais e minha irmã. Meus outros três irmãos já haviam viajado após cumprir a mesma missão para a qual estávamos prontos. Eles me abençoaram e me desejaram sucesso.Não houve choro; sabiam que nós nos encontraríamos mais à frente. A bandeira que defendíamos era bem maior do que todos nós reunidos.
Quando faltava meia hora para o meio dia, notamos que a cidade barulhava bem mais do que na hora em que lá chegamos. Os transeuntes corriam de um lado para o outro como máquinas. A polícia atenta olhava para os quatro cantos da imensa praça – uma das principais da cidade. Os últimos acontecimentos nela observados exigiam cuidados redobrados com a segurança.
Entre trocas de olhares, nos reunimos outra vez. Mochilas às costas, o livro sagrado às mãos, firme propósito de acertar e muito pouco nos faltava. Checamos tudo e decidimos nos afastar um do outro. Adib foi para a estação norte, eu para a saída do metrô sul e assim, um a um, tomamos nossas posições estrategicamente.
Faltavam ainda alguns minutos e já estávamos longe um do outro. Todos felizes, apenas Nagib parecia triste. Como esse sentimento não podia nem sequer aproximar-se de nossas almas, não quis acreditar no que meus olhos viam. Deixei-o ir como se estivesse com o mesmo sentimento que o resto do grupo. Éramos seis voltados para uma única causa.
Ao meio dia – apenas um minuto para a hora exata, houve cinco grandes explosões. Quase oitenta mortos, centenas de feridos, sirenes gritando na histeria do rastro que o terror havia deixado. Missão cumprida! A praça virara um inferno.
Sob a pequenina árvore em frente à igreja da praça, Najib havia deixado seu colete carregado de explosivos. Não sentira firmeza em ser o sexto homem bomba a defender Alah. Menos ruim. Haviam se salvado um corpo e uma consciência. Cinco tolos se destruíram para destruir inúmeros inocentes.
Até à noite o movimento na Trafeguar Square não parou: apenas diminuíra. A polícia fechara todos os acessos a ela. A revista aos transeuntes nas suas redondezas havia se multiplicado por dez. Londres vivia o terror, agora não o do IRA, mas de mulçumanos programados para morrer e matar em nome da guerra santa. Pobres homens adormecidos da verdade. Lutavam em vão; nada lhes sobrava de bom.
As famílias se vangloriam de seus homens-bombas, tidos como seus heróis. Acreditam que, agora como mártires, eles vão interceder junto a Alah pelos seus. Sujos de pólvora?
A igreja estava aberta na hora das explosões. Nagib, ao livrar-se dos explosivos, a escolhera para, adentrando, esconder-se da multidão em pânico. Dirigiu-se a um dos vértices escuros laterais ao altar-mor. Encontraram-no de cócoras, ensangüentado e morto. Cortara os pulsos. Envergonhado por não ter cumprido a promessa feita ao grupo, resolveu tirar sua própria vida, às escondidas, mas livrando outras tantas da morte. Deveria ter detonado as bombas no interior da principal estação de metrô da praça, local de maior concentração de passageiros àquela hora.
Os pais de Nagib foram morar no Irã. Envergonhados pela atitude do filho, viajaram dois dias depois das explosões. Não era pai de um mártir, mas de um fracassado da fé.
Como cristão, agradeço a Deus ter deixado tão frágil a fé de Nagib e, com isso, poupado a vida de tantos inocentes. A praça continua amedrontada, só não podemos dizer até quando.
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