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cronicas-->PRAÇA DA EPIFANIA -- 18/01/2005 - 01:20 (Edson Campolina) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PRAÇA DA EPIFANIA
Por: Edson Campolina.

Era uma quinta-feira como outra qualquer. Era! Fui surpreendido com uma cabeça por cima do portão a me gritar. Não era comum eu receber visitas, principalmente naquela hora da noite - quase madrugada. Meu amigo parecia perdido, sua consternação desfigura seu semblante sóbrio num barbado. Precisava de um ombro, ou melhor, dois ouvidos amigos para seu desabafo. Sem delongas chamei-lhe para um passeio. Apesar da cozinha ser o lugar preferido dos mineiros para uma boa conversa, em casa de homem solteiro este é o lugar menos frequentado.

Atravessamos a Lagoinha e subimos a Afonso Pena. A causa pedia um lugar tranquilo e, por isto, propício. Então rumei à Praça do Papa. Ali recorria em meus desatinos às "forças do universo", de braços abertos, olhos cerrados e concentrado na eletricidade que percorria meu corpo então energizado pela magia daquele "altar" dos místicos, esotéricos, mundanos, divinos, exóticos, angelicais e todo e qualquer humano que elegera suas escadarias e platós, marcados com a grande cruz e abrigada pela imponente Serra do Curral. Belo Horizonte me adotara e eu adotei aquela praça como "meu lugar" de reflexão. Ali consumi horas dentro do carro com os vidros embaçados e ouvindo Belchior, Paulinho Pedra Azul e Raul Seixas. Ali plantei esperanças e colhi perseverança. Curei desilusões com monólogos. Filosofei minha existência. Passei noites quentes, frias e chuvosas apressando o futuro, contando com o tempo para lavar minha alma das angústias dos desamores. Por várias manhãs acordei com o sol queimando meu rosto e o burburinho das crianças nos brinquedos de madeira.

Sentamo-nos sob o pé da cruz, encolhidos abraçando as canelas, tentamos nos proteger da brisa fria do inverno belo-horizontino. Acho que pela primeira vez comungamos juntos. No início, apenas observamos a cidade. Poucos namorados entregavam-se à conhecida sodomia nos interiores de seus carros no estacionamento.

_ Porque acha que as luzes da cidade piscam ao longe? Iniciava um assunto banal para sintonizarmos os conscientes.

_ São as árvores balançando seus galhos na frente das làmpadas. Argumentou meu amigo de infància e compadre.

_ Na minha opinião é a ação do vento. Veja que somente as longínquas piscam, e mesmo as que não estão por trás de árvores. O sopro do vento interrompe o raio de luz.

Deixamos a física de lado. Incrédulo ou desinteressado em minhas teorias, meu amigo iniciou em desatino: o casamento atingira seu limite. Vivia uma torrente de dúvidas e medos. Ondas de certezas e incertezas escaldavam sua firme temperança. O medo do julgamento da sociedade, dos filhos e dos familiares pendia num prato da balança e suas razões no outro. Ouvia seu discurso com o olhar no horizonte da cidade e inferia que o último peso a ser depositado num dos pratos seria meu conselho. Até que ele se calou esfregando as mãos no rosto e suspirando. Seu silêncio perturbou-me, mais que um prelúdio de pranto. Chegara minha hora. A hora da responsabilidade de amigo.

_ Tentarei ser o mais isento possível. Gosto da sua esposa e você é como meu irmão. Sei o que passa, pois já vivi esta dificuldade. Conscientize-se que se você não for feliz, seus filhos também não o serão. Você não deixará de ser pai, deixará de ser marido. Mande às favas a sociedade e seus princípios. Tome a decisão pela sua felicidade. Você já foi feliz com a sua esposa, se sua felicidade agora estiver na solidão ou em outra mulher, não a deixe escapar. A decisão é sua e deve ser tomada, agora ou amanhã, pois a sua esposa e seus filhos precisam de uma resposta. Eu só quero lhe ver feliz, meu amigo!

Olhando o horizonte, numa madrugada fria, sob a energia que paira na praça, meu amigo tomara sua decisão. Na praça guardiã da cidade fiel, no altar da Serra do Curral, instrumento da paz do Senhor Deus do Universo. Na praça da Epifania, onde a bondade, a liberdade e os olhares dos Santos manifestam a proteção e a luz do Jesus Cristo. Na praça da cidade que me adotara por longos e inesquecíveis anos, donde me despedi com a promessa de sempre revisitá-la. Por quem um dia escrevi que a levaria em meu saudoso coração.

BAGAGEM

E se foi o dia...
Já é ontem.
Adeus meu amor, adeus cidade!
Levo em meu peito as lembranças tuas,
Deixo as minhas, se quiseres.
Carrego comigo todo o amor que é teu.
Mas choro o desprazer
De não ter juntado o teu amor,
Um dia meu.

Adeus meu amor, adeus cidade!
Levo meu regresso incerto.
Sabido de que apenas um SIM
Pode deixar-me como outrora:
Bem perto!

Adeus meu amor, adeus cidade!
Um coração feito um poço levo no peito.
Vazio por tua ausência, por tua descrença.
Deixo minha felicidade,
Um dia banhada neste poço.
Ontem perdida na minha querença.

Adeus meu amor, adeus cidade!
Trago teu beijo, tua imagem:
A inspiração por que este peito bate.
Adeus meu grande amor, adeus cidade!


FIM
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