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Erotico-->O Ciclo da Paixão -- 26/12/2001 - 16:32 (Gil Capanema) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Ciclo da Paixão


Você ainda deve se lembrar, pois eu te disse, certa vez, que haveria um tempo em que este dia chegaria. Ele chegou. Pode parecer que chegou repentinamente. Mas, repare bem, ele vem sendo anunciado há muito tempo. Por meus olhos, por meus gestos, em minhas expressões, pela angústia do que digo, e pelo gosto salgado que escorre em meu rosto.
Toda paixão tem seu ciclo e a nossa não seria diferente, a única exceção. O primeiro dia, ainda me lembro, foi algo como ser tocado por Deus em um de seus momentos de milagre. Eu que vinha olhando sempre para o chão, disfarçando minhas tristezas, carregando uma romaria de mortos atrás de mim, tive a graça de te notar entre a multidão. Na verdade não te vi, senti que você entrou violentamente em meus olhos, arrombou as portas da retina, passou por cima de todos os meus muros e, poçeira, foi direto para o coração e lá se instalou. Você foi precisa e fulminante em sua conquista. Olhei para trás e vi que as pontes para fugir haviam sido queimadas pelo meu desejo por ti. Sem ter como recuar te extendi as portas do meu reino escondido. O céu, há muito, escuro, começou a se abrir e clarear. Olhei para o alto e percebi que não iria mais trovejar. Por este primeiro dia te agradeço. Agradeço pela tempestade que você não deixou chover.
E como na criação do mundo, onde os dias duravam horas imensas, da graça do primeiro dia, veio o mundo de descobertas do segundo dia. Descobri as formas perfeitas de teu corpo, as pernas esguias que seguiam firmes, as nádegas feitas de puro desejo. Naveguei teu corpo, cada pedaço dele. Senti sede pelo tanto que te beijei. Tive prazeres como nunca havia sentido nem imaginado. Nossos gritos cortaram o ar quente de nossa respiração. Nossas mãos suadas escorregavam umas nas outras mas jamais deixavam de se apertar. Alucinantes, os momentos de prazer tomaram conta de nossas vidas. Nossos corpos adiquiriram uma forma única. Em vários instantes fomos um só.
Depois, fiquei cego. Ignorei tudo e a todos. Experimentei uma insanidade que poucos ousaram arriscar viver. Olhei para o espelho e vi um homem feliz. Por este segundo dia te agradeço. Agradeço por tirar a imagem da intolerável tristeza do espelho.
Depois de fumados vários cigarros, veio o terceiro dia. Começaram outras descobertas não tão doces como as do desejo. Teve início o duro exercício do convívio. Quantas qualidades de primeira hora foram se transformando em defeitos. Quanta loucura apaixonada ganhou contornos de irresponsabilidade. Quanta preocupação virou um eterno sufocar. Quanta molecagem virou coisa de moleque. Quanto desejo virou cansaço. Quanto amor virou eu também te amo. Mas o convívio, ao mesmo tempo que nos remete à rotina real, por outro lado nos dá abrigo. Nos dá terra para plantar sonhos. Juntos semeamos. Por este terceiro dia te agradeço. Agradeço por ter me dado terra para semear sonhos e um abrigo seguro para aguardar a colheita.
Depois de plantados muitos sonhos, muitas esperanças regadas veio o quarto dia, e com ele, o tempo da colheita. Então chegou o dia que te disse, chegaria. Os botões, morreram em botões, sem sequer experimentar o explendor de ser rosa. Resignado, colhi espinhos. O trigo, morreu nú, sem experimentar o explendor das vestes douradas. Humildememente aceitei o pão de ontem. Resignei-me pelas ervas daninhas que restaram. Chorei pelos sonhos que não germinaram. Fiz tudo isto sob o sol, sem tua imagem para me fazer sombra, e só depois percebi... sozinho. Pensei que você estivesse esperando e voltei buscando abrigo. Não achei você, não achei abrigo, não achei mãos suaves para segurar as minhas, calejadas por tentar colher os sonhos que plantamos. Olhei o campo de meus sonhos e chorei. Olhei para cima e vi que começava a chover novamente. Por este quarto dia eu te agradeço. Agradeço por levar o sol que me cegou e deixar cair a chuva que irá, em breve, fazer florescer os meus sonhos.
E fez-se a noite do quinto e do sexto dia. Por estas, não posso te agradecer.
Mas, agradeço agora, pelo sétimo dia.
Nele, finalmente, descancei.


Gil Capanema.
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