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Poesias-->Lost Generation (Álbum De Família) -- 07/06/2008 - 17:19 (Sereno Hopefaith) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“LOST GENERATION”


(Álbum De Família)





Eu não teria como abrir


O necrológio da família


Paginar os recortes fotográficos


Perguntar o que foi feito de


Fulana, Beltrana, Sicrana


Lembrar de como foram medrosas


Fúteis, fáceis. Sem trabalho mental


Pertinente. Não fosse o Romantismo


E o pó de arroz, as fitas, as rendas


As plumas e paetês. O baião de dois


Como teriam sobrevivido sem


Resistindo sem esses “encantos”


Como a bunda delas teria se


Apresentado nas festas do anuário


E soltado fogosos fogos de artifícios


Não apenas quando no sanitário


E seus maridos conquistados com as


Mágicas corridas ao espelho do banheiro


Nas formaturas e festas de aniversário


Elas, para quem o mundo atual inexistiu


O expresso da realidade passado pela janela


Do quarto. A Carolina e a Januária


Nenhuma delas viu. A década de sessenta


A década de setenta. Estavam preparadas


Apenas para seduzir o marido incauto


O concurso público como “plano B”


(muitas delas nem para isso se ornamentaram)


Apenas para o papel social biológico:


Parir, ser mãe, dona de casa, “do lar”


Não fez força nem pra soltar um pum


Não lutou por nenhum direito. Não leu


Um único livro, exceto os didáticos e os


Do Paulo Coelho. Ainda assim orgulhava-se


Dessa sua “missão”: ser criada de fedelhos


“Educar” a família, estar sempre em


Ação entre a poltrona, a cozinha, a novela


A sala de jantar, o banheiro, o espelho


Ela, parte do entretenimento virtual da


Tvvisão. Seu feminismo de Fidélio


Emancipação feminista de rebanho.


As mais cultas orgulhavam-se de saber


Ter saído da costela de Adão


Viraram as páginas de um romance de


Eça, outra, da Capitu de Machado


Nenhuma delas ouviu o desafio do


Tempo proclamar: “Vai Maria, sai da


Sombra familiar”. Vai buscar sarna pra se


Coçar. Vence o estigma biológico


Da mera maternidade. Evolui um


Pouco essa mentalidade de babá


És mais que uma estufa um balão senil


De nove meses por ser lembrada apenas


Como a treta da truta que pariu.


Com uma individualidade concedida


Pela butique, as roupas de grife


Lipstick e Cabeleireiros. Não estavas


Nem aí para crescer, investir tempo em


Letramento, em ter um intelecto. Tens


Filhos para serem atraídos pelo consumo de


Eletrodomésticos. E filhas para serem


(A)traídas por uma biografia de domésticas.


A sede de sexo de teu vinco atrai os bobos


Pais para o travesseiro. Viverás apenas


Para ter, ter e ter. Quantos corações e


Mentes pacificadas precocemente por


Teu ponto G. Por uma fotografia no


Week-end na praia, admoestar as crianças


Chupar sorvetes para teu bel prazer.


A família toda se derretendo em sorrisos


Para as fotos em breve amareladas do


Álbum da família Narciso. As caras contemplavam


Os aspiradores de pó na mesa posta de


Tua descendência. Netos e netas a paginar


O buquê de flores cinzas amareladas. O olhar


descolorido tropical. Pessoas transtornadas


Por uma memória sorridente. Sem sal. Fotografias


Sem vida: gordas barrigas, mexericos, cafunés


Especulação virtual de crianças infantilizadas


Por uma cultura de shopping center, de carnês


Do Paraíba que quer manter os lucros de pé.


As descendentes da poeira das vaidades


Levadas pelo vento refrigerado do ventilador


Nada mais nítido, nenhum sentido nessas


Fotografias de álbum de retratos. Castos


As bodas da Julinha, o nascimento do Renato


Tudo por migalhas, trocados, dinheiro


As lágrimas do bebê, os abortos que a mãe


Deixou nascer. Todos os sonhos, cantos


Danças de quadrilhas juninas do crime


Organizado. Todas as pantomimas e lágrimas


Os corações partidos. Solitários. Solidárias


A primavera, e as outras estações


A alegria, o sorriso, a intimidade dos sonhos


Virou pó no estatuto da vida dominada


Que horror! Tudo por dinheiro


Como se nada tivesse valor.


Pagaram tão pouco pela aposentadoria de


Seus filhos. Desapareceram tão rápido


Nas fotos desbotadas pelo fim de século


Agora tudo isso parece coisa do cafundó


As consciências compradas para sorrir


E mentir até o estertor. Que horror!


De ninguém teve dó. Esse tempo


Passou tão rápido. A noção perdida


A duração tão fluida, tão ida


As orações aflitas para N.Sra. do Ó


Esqueceram a coisa mais importante


A aprender que é amar e amado ser.


Este sentimento e essa emoção


Nunca estiveram ou estarão


No álbum de retratos. Onde borrifaram


O inseticida que mata pulgas, traças e


Baratas. E diz a propaganda: protege


O álbum de retratos dos ratos.


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