A menina teria uns dez anos de idade. Estava de férias na praia. Ali deitada, de bruços, virava o rosto para o mar, enchendo os olhos com a linha azul do horizonte.
Ficou assim por muito tempo. Sua mãe, ao lado, sentada numa cadeira, Ã sombra de um guarda-sol, estava lendo.
A menina, de repente, se sentou na areia e fixando seriamente a mãe, lhe disse:
- Mãe, descobri agora que Deus existe!
A mãe levou um susto com a frase tão determinada e com o salto que a menina tinha dado.
- Ué, como é que você descobriu isto agora? Estará ouvindo vozes, ou o quê?
- Sem brincadeira, mãe. Descobri que Deus existe. Olha só - o mar é um espetáculo que nunca enjoa. Tem um limite sem limite. Tem azul, verde, branco, e tudo se movimentando como num palco. Tem a luz do sol e de noite, tem o luar. Se não tem luar, tem estrelas. Tudo é bonito demais. - E tem até lugar fofinho, como esta praia de areia gostosa pra gente sentar, ou deitar, ou dormir, ou sentar. Pra quê? Pra ver o espetáculo do mar. E se tiver sol, tem até aquelas amendoeiras de folhas bem largas pra gente se proteger. Tudo isto me mostra que Deus existe. Foi Ele que criou tudo isto. Muito inteligente. Muito prático. Muito criativo...
E a menina voltou a se deitar e a absorver o espetáculo que lhe transmitiu a existência de uma entidade superior a ela. Mas que ela soube interpretar.
Sua mãe voltou à leitura. Ou fingiu que voltou. É possível que estivesse pensando no que a sua filha, sempre tão quieta e observadora, lhe tinha dito havia pouco.
------
E.E. |
