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cronicas-->MEU PAPAI NOEL -- 19/12/2004 - 08:55 (Edson Campolina) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MEU PAPAI NOEL


O Natal não me agrada. Esta euforia capitalista e gastronómica que pra mim parece prolongar o fim do ano. Lembro-me de dona Nhá e suas filhas mais velhas que, ao perceberem meu olhar distante nos dias de Natal, me revelava o segredo do Papai Noel.

_ "Dizem que é um bom velhinho, de barba e cabelos brancos e longos, roupa vermelha e um grande saco cheio de brinquedos que visita as criança de casa em casa distribuindo brinquedos na noite de Natal".

Pensava eu, ao olhar todas as crianças de minha rua na manhã de Natal, descamisadas, algumas barrigudas, esquistossomáticas, outras esqueléticas, desnutridas, pés descalços e canelas ruças, todas a exibirem alegres seus presentes de Papai Noel, que fora esquecido outra vez. Não adiantara o velho Kichute na janela. Encolhia-me num canto qualquer do quintal a julgar meu comportamento ao longo dos últimos dias. Por algum motivo não fora merecedor da visita do bom velhinho.

Até aqui, talvez um psicanalista qualquer induza que seja este o motivo de não me agradar os festejos de Natal. Mas devo continuar com o relato para esclarecer que, apesar de rejeitar toda a falta de lucidez que contagia a todos nesta época, acredito em Papai Noel. Pois Nhá e suas filhas mais velhas também me revelaram que aquele Papai Noel que visitava as crianças de minha rua, só vinha naquela data. Pois o verdadeiro não os deixaria descamisados, descalços e assolados por moléstias da pobreza. O verdadeiro Papai Noel era aquele que nos alimentava todos os dias, nos vestia, mesmo que singelamente, nos permitia o estudo e, mesmo que não se mostrasse o mais carinhoso dos velhinhos, mostrava cotidianamente que nos presenteava com amor em forma de cuidado e atenção.

Continuei a olhar aquelas crianças com inveja, mas também com pena. E hoje elas me vêm à lembrança em todo Natal, e sinto-me orgulhoso por ter tido o Papai Noel que tive. Continuo avesso à euforia dos shoppings, das ruas, das empresas, das crianças e das mesas fartas. O Natal ainda me desagrada, pois também me causa uma melancolia que congestiona o peito ao lembrar-me dos amigos e familiares distantes, dos amores deixados no passado e de todos aqueles a quem gostaria de apertar-lhes num abraço. Causa-me revolta e tristeza ao lembrar-me dos irmãos do Jequitinhonha, do sertão nordestino esquecido, das ruelas e becos úmidos e fétidos das favelas cariocas. Sinto-me então só e pequeno diante desta agonia. Apego-me ao significado da data natalina e me acalento no abraço dos filhos e da esposa, expulsando a cãibra que percorre a barriga.

Meu Papai Noel me mostrara que a cada manhã tive um Natal, porque todos os dias do ano eu era presenteado com a verdade, a sinceridade e o verdadeiro espírito natalino. Tive o melhor de todos. Ele se chama Geraldo, e não preciso mais ajeitar sapatos na janela, pois sei que ele está todos os dias comigo.

FIM.
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