Usina de Letras
Usina de Letras
119 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62231 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22537)

Discursos (3239)

Ensaios - (10367)

Erótico (13570)

Frases (50628)

Humor (20031)

Infantil (5434)

Infanto Juvenil (4768)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140805)

Redação (3306)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6190)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Batida de carro -- 14/12/2004 - 18:20 (Érica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aconteceu a alguns metros de onde eu estava, esperando para o sinal abrir para poder atravessar a rua. Antes que isto acontecesse, dois carros se bateram, de frente. Não sei como, o de lá veio na pista deste que estava cá, e pronto! - um estrondo daqueles e as frentes de ambos bem amassadas. (Depois soube que um deles dobrou a esquina em curva fechada.)

Ambos os motoristas saíram disparados de seus assentos. Furiosos. Aos berros. Vermelhos. Não se agarraram porque ... nem sei porquê. Pararam a uns centímetros um do outro. Ouvi um berrar, está cego, cara? e o outro responder, onde você tirou sua carteira? - E daí por diante eram gritos e ofensas. Meu sinal abriu e fechou, eu ali parada, fascinada por tanta amabilidade. No carro de um deles o banco de trás levava uma caixa enorme, devia ser um aparelho de TV. Por cima da caixa havia um laçarote enorme, vermelho. Era o que se podia ver. Claro que era presente para alguém. O dono do carro estava a caminho de algum lugar, feliz com a idéia de presentear alguém. Quanta bondade no seu coração!

Agora, envolvido no acidente, toda a doçura do seu bem intencionado coração ia por água abaixo. Mesmo porque, estava começando a chover. O que saía daquele homem - e do outro também - era um jorro de palavras ácidas, destruidoras, acusatórias, horríveis. - "miserável" -"olha aí seu burro o que vc fez no meu carro!" - "quem vai pagar isto, do meu bolso é que não vai sair!" "você é um idiota mesmo!" - e outras mais, impublicáveis neste espaço tão respeitável.

A polícia chegou. Veio o homenzinho fardado, levantando o boné ou chapéu com o dedo indicador. Olhou pros lados - timidamente perguntou se havia testemunhas. Ninguém se ofereceu. (Eu não serviria, porque errei em cheio ao pensar que o carro vinha na contramão, quando o que ele fez foi fechar uma curva.) O policialzinho se meteu entre os dois motoristas. O quadro ficou grotesco - ali estavam dois dignos representantes da classe média alta, um deles com uma TV do tamanho de um bonde no banco traseiro do seu carro, discutindo quem iria pagar pelos estragos (ambos estavam bem amassados), e o guardinha, com um salário que deveria ser um quinto do que teria custado a TV, tentando apaziguar os graúdos da cidade. - Calma, pessoal, calma. A gente vai dar um jeito nisto aí.

-- Que jeito, que nada, sêo! - eu quero ver quem vai pagar isto. Vai ver este burríssimo nem está no seguro!

Pegando a deixa, o polícia perguntou pro outro se ele tinha seguro - o carro não era dele, ele esquecera a carteira em casa, foi puro azar tudo aquilo.

Quem ganhou a parada foi o homem da TV no banco de trás. Ele tinha carteira, estava no seguro, e o carro era dele sim senhor.

Alguém apareceu pelo toque do celular de um dos motoristas e começou a tirar fotos. O guarda chegou a sorrir para um flagrante. A coisa estava ficando cada vez mais interessante para se olhar. Mas eu tinha tanta coisa pra fazer que tive de sair e deixar o espetáculo ao meio. Fui andando pelo calçamento, procurando outro lugar para atravessar a rua. E assim, fui acompanhando a imensa fila de carros parados, buzinados, enlouquecidos neste fim de ano tão parecido, tão igual, tão o mesmo que tantos outros antes e tantos outros, depois.
-----------
E.E.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui