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Cronicas-->DUAS NO ÕNIBUS -- 08/12/2004 - 22:25 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DUAS, NO ÓNIBUS

Francisco Miguel de Moura
(Da Academia Piauiense de Letras)


O ónibus é uma casa ambulante. Nele acontece tudo. Não vá o leitor pensando logo maldades do tipo sexual. Não. Durante uma viagem, quanto mais longo o percurso mais familiares os passageiros se tornam. Entretanto, enquanto não se conhecem, no transporte urbano de pequenas cidades como Teresina podem ocorrer atritos. É que, não sendo grande nem pequeno burgo, a indefinição se presta favoravelmente aos mal-entendidos.
Como disse, pode acontecer tudo: de brigas a partos e mortes, das mais diversas naturezas e origens, durante o curto trajeto de um ónibus urbano. Acontecem também tragédias, quando viram ou batem. Porém, se o percurso se faz dentro da normalidade, todos vão se acostumando com os solavancos e é como se estivessem se balançando numa rede...
O pior é quando assaltam:
- Todos quietos, não entra nem sai ninguém. Aliás (uma palavra que bandido nenhum diz), quem passar o dinheiro e os objetos de valor logo, logo, pode ser liberado.
Mas não vamos entrar por esse caminho dos assaltos. Estes, praticamente, ainda estãos circunscritos aos ónibus interestaduais, graças a Deus.
As duas histórias (verdadeiras) aqui narradas aconteceram onde sempre acontecem muitas coisas. Foi na linha do Itararé, me contaram.
Vamos à primeira. Entra um homem grosso, forte, barbudo, de cara amarrada, sem encarar ninguém em particular, olha para a frente (naquela tempo se entrava por trás) e diz um disparate:
- Metade dos passageiros deste ónibus são «viados».
Um reclama e responde, em voz baixa, qualquer coisa como: «menos eu» ou «me tire desta».
Com isto o mal-estar geral se atenua. No cómputo geral, agindo com bom senso, a maioria pensou que se tratasse de um doido. E pela figura física, ele realmente tinha tudo de um maluco qualquer, desses que vivem soltos pelas ruas.
Em seguida, antes que os passageiros se recompusessem psicologicamente, o mesmo homem levanta-se e diz:
- Do trocador pra frente (que outrora ficava bem no meio), todos são uns «cornos».
Antes do zuzunzum que geralmente ocorre em situações tais, o motorista deu um bruto freio e reclamou:
- Duvido que você repito o que disse!
Sem pestanejar, ele retruca:
- Agora não dá mais, você misturou tudo!
E o motorista, na sua santa e brilhante «inteligência», ficou satisfeito e continuou de pé firme, com as freadas bruscas, ultrapassagens violentas, comendo sinais luminosos e faixas.
Agora vem a segunda história. Mais à frente, já perto da ponte do Poti, entra um «cara» muito sujo e suado. Alto e de compleição bastante forte.
Sentada do lado da janela, tranquila (até então), uma senhora se distrai matando palavras cruzadas. O adventício não póde escolher. Justamente a cadeira vizinha a ela era a úncia vazia. Os corredores estavam superlotados. A madame tem que se aguentar ali, firme, até chegar a sua hora. O homem se interessa pela revista das «cruzadas» que a senhora estende no rosto. Vai não vai, ele precisa levantar o braço por causa do arrocho no corredor. De vez em quando, pra variar, levanta o braço próximo da mulher. Ela se encolhe, tapa o nariz discretamente, quase quer saltar pela janela, tanto era seu desconforto. Se pudesse...
- Catingoso! exclama.
O homem olha e pensa que é «às palavras cruzadas» que ela se refere.
- Ai! Além do mais, preto e cabeludo... completa.
O homem, já nervoso de tanto olhar o papel de mau jeito, tenta ajudá-la:
- Catingoso? Preto e cabeludo? Se for com duas letras, minha senhora, eu já matei a charada. Mas temendo reação, não explicitou.
Um cavalheiro que estava do outro lado, não se conteve, riu, quase gargalha.
- É o fim, disse a senhora.
- Ainda bem, diz o preto, cabeludo, fedorento.
E pergunta:
- Qual é o prêmio?
- Respirar melhor, disse a senhora, abanando-se com o seu leque e empurrando as pessoas para que dessem lugar a sua saída.
Saiu indignada, resmungando: «E ainda dizem os vereadores e políticos desta cidade que a gente não anda de ónibus de grãfina. Quem pode suportar tanta sujeira, tanta falta de educação?»
Pior é que ela tinha razão.

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